Pai, um canteiro seria uma obra de canto ao ar livre?
Porque nesta colina não há som. Claro se eu pensar em trinados de sabiás e pintassilgos eu teria um canteiro?
Aqui logo quando sai o alvorecer naquela luz bem opaca que parece que não se diz – É a transição de uma linguagem? Pai, esta veste trocada, noite-dia.
O senhor acha que um canteiro é um jardineiro; um maestro ou um poeta menor? Para apenas florescê-lo. E eu leitor das manhãs dificultosas que posto-ponho lenha molhada de orvalho no fogão à lenha na beirinha do dia….
Eu seria um bom colhedor de beleza?
Nesta cantiga de roda, neste sopé de serra da minha eterna roça.
Quando no dia do seu lumiar-se você disse que findar era uma obra tatuada.
Não entendi muito bem…
Na hora do seu findo só quando existem fendas que nossos sentidos nos bolem bem.
Pensei que a caça à tu tirar tatu da toca.
Seria uma metáfora de dentro.
Nunca pensei que fosse te virar do avesso
Estes seus órgãos tão sanguinolentos.
Se pudesse vir à luz do dia, não seria um belo assassinato?
Matar seria uma ratazana-ação por dentro ou então pedir que tudo ir se revelando
se estranhando no perceptivo.
Li que a janela vista daqui de casa é um silêncio peregrino. Que tudo que se move encobre murmúrios da água-riacho; folhas-ao-vento. A brisa padece de timidez. Por ser tão pouco invasiva.
Você já escutou daqui da porta como vem a brisa da tarde? Aquela do poentizinho quando luz falta por deficiência visual.
Aquilo Pai é a forma natural feita só de silêncio,de falta de palavras.
Pai outra vez, o canteiro eu fiz para seu sepultamento, para que tu cantasse no canteiro – morto. Uma ária que já não temos
Área já não pertencida.
Aqui a ausência tira tudo
As letras, as canções e o dia.
Fernando Andrade| jornalista, escritor e crítico literário.
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