FERNANDO ANDRADE: A busca pelo contato através de relações afetivas parece ser um dos seus motes nas narrativas que você produz. Porém, há sempre uma certa distância, ou vazio afetivo? Como um certo traço de incomunicabilidade entre laços e afetos e com certo esforço através da linguagem de diminuir este fosso entre homens e mulheres, relações sociais enfim. Com foi produzir estes efeitos tão bem expostos através duma linguagem muito bem matizada?
ADRIANO DE ANDRADE: O ser humano é de natureza inconstante. A insatisfação social, afetiva, econômica ou íntima faz com que uma gangorra de sentimentos nos mova em direções alternadas, ora no sentido da felicidade, ora no sentido da ausência e do vazio. E a comunicação, ou a falta dela, é fator primordial nas relações pessoais. Escrever sobre essas emoções me aproxima de uma faceta humana mais sensível, mais delicada e, consequentemente, leva o escritor para perto do próprio leitor.
FERNANDO ANDRADE: A variedade de temas e situações sociais é bem composta por você. Como foi a escolha de cada enredo bem particular dentro de uma narrativa de duas ou três páginas. Elaborando a escrita com os seus inícios, os cenários, e também certo desfecho que parece bem encenado para o gênero curto.
ADRIANO DE ANDRADE: Existe uma curiosidade frequente em relação ao processo criativo do escritor, suas inspirações e construções literárias, seja na prosa ou na poesia. Essa curiosidade é comum inclusive entre os próprios escritores. Porque não há regra. Na maior parte das vezes, eu imagino o final de uma boa narrativa e vou construindo por partes até chegar no início.
Começo pelos extremos e trabalho o miolo. O mote para uma história pode vir de uma situação cotidiana, uma referência na família, no trabalho ou mesmo em um sonho. O que transforma tudo isso em história é uma boa pitada de ficção.
FERNANDO ANDRADE – O fantástico às vezes surge de certas situações que podem ser surreais ou meio absurdas, como se do real, surgissem brechas para um veio imaginoso/fantasioso. Você acha que em certos contos seus há essa veia para o insólito ou fantástico?
ADRIANO DE ANDRADE: Explorar o universo fantástico em meio a histórias supostamente comuns é um desafio para mim. O sucesso de um conto bem amarrado e que passa por situações insólitas é resultado da dose que o escritor investe na narrativa sem que o leitor se perca no enredo. Em alguns
contos eu procuro explorar esse lado fantasioso pela própria (in)capacidade do protagonista que conduz a história, ao revelar uma desordem do imaginário, ou ao mostrar um raciocínio caótico.
FERNANDO ANDRADE: O conto necessariamente precisa ter aqueles espaços em branco para a imaginação do leitor ocupar com sua própria escrita-leitura? No seu livro há este espaço procriativo?
ADRIANO DE ANDRADE: Permitir que o leitor participe da história é um recurso que merece ser explorado pelo escritor. Nem sempre as narrativas curtas permitem esse espaço, mas se o conto captura o leitor, é natural que haja um envolvimento da imaginação de quem lê, abrindo um leque de diferentes visões de um mesmo texto. Afinal, uma vez publicada a história, esta já não pertence mais ao escritor, mas é de cada um que se debruça sobre o livro.
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