TÍTULO EM ABERTO
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O que sabem os pássaros sobre domínio?
o que deseja, afinal, esta vida que nos contamos
em parábolas de telefone?
um tiê-sangue brota do corpo:
há um banquete antropofágico –
me atento sentir a ânima da língua
e ver que as papilas gustativas no outro
se auto-provam;
quantas luas morreram em mim desde que nasci?
e o quanto disto
interfere no sal da minha existência?
sei que tendo ou não
esta celestial presença que se acumula
sou o prisma-etéreo para algo:
é uma entidade de negro-azulado que afora me habita;
e de mim engorda a boca d’uma ilusão-nevasca
e assim punge
e assim explode
feito a infância maldita de um astro-maior;
harmoniza, eu digo,
em mim o espanto
como se morassem-me os nervos de um lírio
quando no espírito ausente
tu furtivamente traz a geada no toque
e abisma esta matéria estranha
nos baixios de minha carne;
é de me deixar feliz e tonto
saudosista de supernovas e primeiros porres:
e nisto lembro-me o quanto me agrada ser chão;
e fundo-me no vácuo tal a casa que plantei vazia
para a estatura exata do nosso sonho
a qual se arrepia dentro
quando rasuro a noite no teu nome
quando arranho;
um ninho de lodo e flâmulas macias fervilham na minha sede:
é um lugar que se dilata e se acolhe:
é outra casa,
a de quando entro em ti –
onde a quentura do teu corpo conta
qual foi o solstício
em que nasceu;
raspas dos teus olhos como substrato
para este campo coalhado
das tantas coisas imaginadas
e tão esperançosamente extraídas de nós
hoje vultas e infrutíferas;
O Nada colhe e molda
nas conchas vãs das baldias mãos
a não-palavra, o sentido da não-palavra,
apalpada em um peso incógnita –
tal a língua esfinge
que devorou a primeira flor;
a palavra é insubstância concreta e natimorta,
a não-palavra é insubstância viva
e ambas planam em sua superfície insone
e ambas perguntam se o signo de si que veem
em si se reconhece
mas não podem aprofundar o íntimo objeto de ser algo
e permanecem sem resposta
pois são apagadas de consciência e pensamento
e seu sótão é o puro reflexo mental da imagem que causa a forma
a forma antes de ser imagem,
ainda não-imagem:
corpo-imagético que flutua;
a matriz da palavra é sem equilíbrio e paredes
antes de ser desprendida do divino;
então qual não-palavra sente se lhe digo
que apanho os teus seios como ânforas sagradas?
e qual não-palavra sinto quando os apanho?
meu amor por ti são mil vinhedos lustrosos de sumo
que cuido estéril em ti já sem o porquê
e me culpo por te amar só por sentir que te amo;
e sobrevivo em nós
no espaço deste silêncio incompleto e irredutível
que é o nosso amor que morre
sem precisar dizer.
FUGAZ-PICTÓRICA
***
Nunca fui desses que fodem e nem sei muito o que dizem
os românticos por entre os campos de tulipas;
o meu amor me afaga de mãos cansadas
e deixa assim no gosto da presença
as digitais postas em minha mandíbula
e me sobe o cheiro de algo que mora longe
de outra vida, seus dedos feito gomas cítricas
& aroma & morte natural & lembranças & saudade
& espírito decomposto em nós & que sob nós se resigna
lá fora o sereno veio de um outro lugar, mais ameno
pensamos em fugir para Bariloche, viver assim
orgânicos como o povo mapuche, dançar
& roubar os pinhões fora de época
tu ansiando a carreira de artista
eu querendo receber mínimo
para ter tempo de poesia
& de reverberar só
bando de aves
& surdas canções
que são de solitude
dessa que minha imersão
matura nos aquários de morfina;
tu me fita com teus olhos grandes
& orbita esse rosto amante, que tenaz
não é outra coisa senão um chão de carícia
te amar de todo recurso – não ser o peito galpão
não resguardar se sente ou esconder em monumentos
& em rancores engomados entre si como os cachos de uva;
então ter assim meu coração sem doma & nem pelego
nessa fase de transição onde na vida tudo é trôpego
& essa cal queimada, embebida em nosso corpo
é tão falsamente esperançosa & fragilizada
e por ser jovem não há nenhuma ciência
nem nenhuma memória além de moça
é preciso crescer nesse montante
de informações que de tantas
nos atentamos nas poucas
egos & entretenimento
os fascínios idiotas
do século XXI;
este poema
nunca foi
de amor;
nunca fui desses que fodem e nem sei muito o que dizem
os românticos por entre os campos de tulipas,
amigo, é tudo tão passageiro & fútil
a existência é um fogo-fátuo
& este poema também.
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