Fernando Andrade|jornalista e crítico de Literatura
Os bichos estão em volta de novo da gente, gente, gatos e seus caos de patas brincantes. O cão tergiconversando salivas com seu dono. O osso é o laço de fita que não parece pedra. Todos somos alegres e con(i)viventes, mesmo que não temos quatro patas. A palavra é carinho, basta olhos para sentir a acuidade do afeto. Mas vamos pensar no ato poético que tem algo que parece imóvel? Em sua torneação de pedra. Linguagem tanto bate, quanto fura? Moventes são os signos a darem os sentidos de pernar pro ar, voando, pousando aqui e acolá feito avião de significâncias.
Na distância do ato sensível para o ato poético, podemos carregar um certa aspereza do não movimento, como se quiséssemos tirar leite de pedra. Não falo da letargia de um esforço para ser, mas sim da sua ontologia, de estar as palavras perto de uma certa dureza de exprimir tantos conceitos ou sentimentos.
Penso agora no laço que a poeta Adriana Barreta Almeida deste ao seu livro, Todo laço é feito areia (editora Penalux) não há gravação de áudio nesta fita, pois a areia tem um som para dentro, como um barulho de concha, bem interno, que se escuta com a internalidade mais funda. Seus poemas são novelos para dentro que não escondem a cesura ou a costura dos nós internos que todo poeta como um sorriso no canto da boca e uma piscada de olho, dá a quem o lê. Palavras que se enrodilham sem ilhas, mas sim, em palavras-prole que despertam a curiosidade da imanência tocada, na toca do afeto.
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