Rogério Rocha é filósofo, poeta, professor, nascido em São Luís/MA, Bacharelando em Letras pela Estácio de Sá, Bacharel em Direito e Licenciado em Filosofia pela UFMA, Especialista de Direito Constitucional pela Universidade Anhanguera/UNIDERP e em Filosofia pelo IESMA (Paradigmas da Pesquisa em Ética), Mestre em Criminologia pela Universidade Fernando Pessoa, ex-advogado, servidor do TJMA, produtor cultural, palestrante e membro fundador dos projetos Iniciativa EIDOS e do Duo Litera (núcleo de estudos e de divulgação de filosofia e literatura).
PÃO ETERNO
Tu és pão no hoje
Do meu dia.
Flor no deserto
cor que ardia
Sonho desperto.
Vives no hoje
Qual pão eterno.
Pão nosso
de cada agora.
Farto-me da luz
Em olhos plácidos.
Deito-me cedo
E sorvo a aurora.
És flor que alimenta a alma.
Pão fornado em tarde calma.
CAOS
Nexo 1:
Estou no centro do mundo,
Meio fecundo, vivendo,
Dizendo e amando
Do único modo
Que posso
Amar
Meus vis olhos pardos,
Meus calos, sapatos,
Perturbam o sereno
Gracejo da boca
Que hoje
Beijo.
Estranho pessoas
Que ocultam
Suas dores
E mastigam
Amargas
Favas.
Desejo sentir
Minhas [tantas]
Faltas
Pairarem
No ar
Nexo 2:
Meus pulmões
Perfurados
Inspiram
(in)senso.
Minhas mãos
Desonestas
Despertam [abertas].
E às pressas
Procuram [tarefas]
Com que lidar.
Correndo riscos,
Reitero-me
Em gestos neolíticos
Largos, lentos,
Polidos,
Longos, [re]torcidos.
Nexo 3:
O dia é todo hoje.
O presente é fiel
A si mesmo.
E a toda hora
Desperto e sou.
Sou aqui, parcamente,
Em meio a essa pobre gente
Em meio a e-mails correntes
Em meio ao vívido vulto
Dos teenagers indolentes.
Minha máquina de escrever
Underwood 198,
Meus velhos discos,
Meus livros,
Escritos apócrifos,
Descansam [obtusos]
Na hipermodernidade.
A foto
[que é tempo cristalizado]
Traz meu rosto,
Para sempre
demarcado.
Tudo é farto
Como nunca foi!
Tudo é vago
Como nunca foi!
Tudo temos, tudo falta.
Roupas sujas,
Copos (e corpos)
Alquebrados.
Desejo e dor
Entrechocados.
Rompemos
Sem pressa
As amarras.
Nexo 4:
Meu vício maior
Naufraga
Em fartos
(an)seios.
Pousa preciso
E repousa.
É magia virulenta
Essa cousa
Que nos toca
Quando juntos
E de súbito
Assalta-nos.
Atacados por incertezas
Habitamos um ao outro
Em arroubos acrobáticos.
E num ballet performático
Dançamos ao vento
Borbulhando caos.
Dissolvendo nossas faces
Em meio aos medos
E neurônios atônitos.
Com som e fúria
[esquecida a ternura]
Brindamos à cegueira
Em festas seminais.
NECRÓPOLE
A cidade está morta
E seu sono consagrado
Vinde então e vê
A hierofania elementar
Das pedras e rochedos
Que evocam com fervor
Mistério, ardor e medos.
Ricos sarcófagos
Com velhas cruzes
Insculpidas.
Menires e ossos
Em sonhos nossos
Jogados nas pias
batismais.
Lendários colossos,
Templários e antas,
À
beira dos poços
No lume das santas.
A velha máscara
Corrói toda a carne
Deflora na casca
Nossa alma cósmica
A vida (des)articula
O sofrimento e a sorte.
É gangorra que especula
A hora do dia da morte.
O
temor da noite ronda
O
corpo da cripta escura
No alto da torre
redonda
Todo silêncio é tortura.
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