No mundo há muitos corpos que são livres, que emitem palavras que geram sentidos. Há muita locução, eloquência, de um falante de inúmeras línguas. Mas na grade, uma noite tão terrivelmente só – existem duas noções que lutam entre si por um pedaço de existência. Não por dizer entidades, por que elas ainda não foram nomeadas. Ausência agora luta com Presença.
Não quero formular paradoxos nesta resenha. O corpo da palavra é uma fonte onde a religião descobriu que ambas saíram do castelo e foram peregrinar por um cálice onde talvez o desejo seja todo cerne de algo. A brutalidade é um risco no chão, é um cisco de acender fósforos. Queimar o espaço onde ainda se encontre todo ar que uma ausência respire ou pire.
Neste caminho vejo uma estrada ou uma passagem onde o poeta Alexandre Bonafim, em seu Noite de Dioniso, editora Terra Redonda, peregrina lumes à noite dos reis, onde não há comédia, mas sim, tragicidade de ser bruto, ter um fogo a arder lenha de uma paixão carbonária.
O poeta desce ao inferno em suas imagens da carne que baladeia uma personagem que sai da máscara de Baco para encontrar Eros flamejante, olhos vidrados. Ele ainda encerra uma ausência através de palavras que são calmas, ternas. Mas o odor de carne sulfúrica é muito atiçador. A luta ou embate corporal de ambas está à ponto de dilacerar o poema.
Imagens do profano começam a lambuzar a página ocre deste livro ouro. Alexandre quer um corpo, mas mediado pela palavra bruta, quente, férrea. Para isso o poeta nunca torna o tamanho do poema elástico para perder massa muscular. São sempre o peso compacto onde a grade dos olhos do leitor parece que não para de piscar pelo reflexo ou intensidade de seus cortes, de suas pinceladas de frames sexuais.
Imagens não se desgastam, porque este livro do poeta não geram paradoxos. Na verdade, a fricção, há nela algum tipo de entropia onde pela força do atrito entre ausência e presença, o poema se faz gênese ou gênero.
imagem: https://bit.ly/31fRwfE
Be the first to comment