O silêncio daquelas tardes, na casa dos meus avós, era somente quebrado pelo barulho de insistente dos motores de sisal a rodar mordendo a palha verde e soltando a fibra esbranquiçada, que depois, exposta ao sol, revelaria sua cor dourada. Dali também se podia ouvir o grito dos peões a comandar os asnos que carregavam a palha desde as carreiras do sisal até o motor. E depois o silêncio das maquinas a parar com o cair da tarde.
Esta narrativa é uma recordação factual, rica em estilo literário e figuras de linguagem. É assim que um escritor transforma um simples fato em narrativa com valores sentimentais universais.
A possibilidade de ampliar esta perspectiva é tão grande que um escritor pode narrar fatos, segundo a sua imaginação, de um período em que ele não viveu; ou recordando de fatos que sequer aconteceram; ou ainda criando ambientes que não existem.
No campo da imaginação, um escritor pode criar tudo. Mas nada é tão agradável quanto escrever sobre um ambiente que se conhece. ‘ Cartas Sertanejas ’ nasceu desta perspectiva. Um livro de contos para narrar história de personagens marcados por dramas pessoais, mas, também por muito humor e alegria. Em essência, cada um dos personagens tem características verossímeis, ou seja, eles podem existir em qualquer lugar do sertão brasileiro.
Em alguns aspectos, as histórias inusitadas podem ser fruto de recordações, de outras histórias contadas, de livros e percepções sociais. A narrativa silenciosa de ‘O Carroceiro’ mostra como pessoas humildes, com idade avançada, ainda vivem no meio do sertão, despojadas de todos os seus direitos como cidadão e como pessoa humana. Julião vaga com a sua carroça pelos rincões em busca de água para matar a sede de duas vacas esqueléticas. À espera de algum auxílio que jamais virá.
O enredo do conto ‘Cartas Sertanejas‘, que dá nome ao livro, também traz discussões sobre a obrigação do casamento ou o casamento como a única forma de uma mulher ser feliz e realizada. Evitando o spoiler, posso dizer que Nice Ferreira é o exemplo de mulher que não se casou – diferentemente de todas as colegas e amigas – e, amargando ainda a tragédia de ter vivido amores malfadados, acaba recebendo cartas de um admirador secreto. Estas cartas chamam a atenção por ser bem escritas e, aos poucos, começam a despertar a inveja das amigas casadas.
‘Cartas Sertanejas’ é, em essência, um retrato das coisas que vi e vejo no sertão. O sertão de tantos rostos vincados e de uma ânsia sobrenatural por sobrevivência. Escrever sobre minha gente, minha terra, minhas recordações é muito mais do que orgulho. É gravar, num livro, as tantas histórias que outras pessoas precisam conhecer. Mostrar que o Brasil é extremamente desigual – e que há vida fulgurante distante dos grandes centros urbanos.
Serviço:
Título: Cartas Sertanejas
ISBN: 9786500037388
Autor: Mailson Ramos
Páginas: 128
Livrarias Amazon (Ebook) e Uiclap (Impresso)
Sobre o autor
Mailson Ramos escreve desde os 16 anos de idade. É formado em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e Técnico em Comunicação Visual, pelo SENAI Dendezeiros. Autor de Vossa Eminência e Papa João Paulo II Comunicação e Discurso, ele agora se dedica a escrever sobre outra paixão: as histórias e os personagens sertanejos. Nascido na capital do sisal, Conceição do Coité (BA), Mailson Ramos traz em Cartas Sertanejas a cultura, os costumes, a religião, as dores e as alegrias do povo do sertão. Um retrato da realidade humana numa das regiões mais pobres do Brasil.
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