Como dizia Vinicius de Moraes “Amar é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto”, o amor é um tema muito recorrente na poesia, e como poderia ser diferente? Para algumas pessoas o amor é feito de fases, para outras é feito de atos, e há ainda quem diga que o amor é feito estações. O amor visto em poemas viaja no tempo como cartas, aquelas cartas de amor que perpassam estações, fases e atos e nos trazem o vislumbre de declarações dos apaixonados.
Na antologia Poesias para apaixonados da editora Lura (2020), vários autores retratam esse emaranhado de sentimentos, sejam eles apaixonados pela vida, por alguém, por algo, por si. Ao ler esta obra, me senti mergulhar em um mundo que tem amor, tem luz e trevas, sentimentos tangíveis e fugazes, alguns dirão que é um livro pequeno, mas só quem o degusta pode saber e entender sua grandiosidade.
Poesias para apaixonados trata-se de um livro que em pouco tempo podemos devorá-lo, mas a essência contida nele se torna mais gostosa se for saboreado calmamente. Por ser simples e singelo, o livro impressiona por ser complexo, tanto que se torna impossível soltá-lo antes de ler até a última palavra seguida de seu ponto final.
A estética da obra é tão linda e diferente quanto cada verso de cada poema ali publicado. Nesta obra encontramos poemas que inspiram pela experiência vivida de cada autor, contida em cada estrofe e nos mostra o amor em suas diversas faces, fases, atos e estações. Mas que tipos de amor podemos encontrar nele? De todos os tipos, desde o amor fraternal até o amor romântico.
Poesias para apaixonados foge do padrão de livros de amor, ainda mais na poesia. E o resultado disso é o encantamento que o leitor terá despertado em cada linha, desde seu primeiro poema intitulado ‘Chão de estrelas’ de autoria de Lorena da Costa quando nos fala “Você me deu / um chão de estrelas / Para que eu suportasse / Te encontrar lá no céu.”.
Até seu último poema intitulado ‘O que é o amor’ de autoria de Roberto Silva, em seu último suspiro ao nos dizer que “Mas mesmo estando ao seu lado, / Só tenho que fazer um clamor. / Para que um dia eu possa enfim entender / O que é o amor?”. E fica aí um questionamento que estremece e abala as nossas estruturas, pois não temos como descrever com palavras exatas, com ações concretas, o que exatamente é o amor.
Em sua essência, a obra deixa marcas dos sentimentos dos apaixonados que escrevem, e dos apaixonados que leem e que por ventura, vivenciam esse maremoto de emoções. Assim como a capa da obra sugere, essas marcas ficam enraizadas e florescem no íntimo do coração de cada autor, de cada leitor. Cada poema desse livro me tocou de uma maneira, parte por ser uma eterna apaixonada pela poesia, assim como pela literatura, mas mais ainda, por ser apaixonada pela vida em todos os sentidos.
De maneira sutil, pude me situar dentro de cada verso, do mundo de cada autor, das experiências carregadas de sentimentos e nostalgias, ora de amor, ora de dor, ora de paixão, ora de afago. Em uma escrita cativante me deparei com o poema ‘Convite’ de autoria de Bruno Barcellos Sampaio que diz “De máscara despida. / Ficou tão mais bonita. / Alegre ao me encontrar. / Peço que ao meu lado fique. / Se entregue e acredite. / Caminhe e volte a sonhar.”.
Ainda encontrei o equilíbrio da realidade fundida na poesia de Juliana Inhaszintitulada de ‘Inversões’, quando a mesma fala que “Linhas / Nas entrelinhas, / Minhas inversas / imperfeições…”. Por fim me senti transportada para um mundo repleto de cenas do cotidiano, da paisagem da vida e do amor, pude respirar esse ar com cheiro de inocência, confusão, exclamação e por que não dizer, de indagações vindas do amor.
É como diz Marcelo Frota em seu poema intitulado ‘O amor é uma palavra de quatro letras’, quando nos apresenta cenas como se fosse uma peça shakespeariana, onde podemos vislumbrar as variantes desse amor em cinco atos, sendo que o primeiro nos remete a Roma, que por acaso é amor ao contrário, e esse com certeza é um lugar de paixões e de amores eternizados quando nos diz “Cidade do amor / De jovens amantes / Velhos casais / velhas ruas de pedra / novas paixões em italiano / Francês e tailandês.”.
O autor me fez sentir como se estivesse em um teatro, com seus artistas representando a vida, mas na verdade, os atores somos nós, que cotidianamente temos a vida representada pelos poetas. Assim como fez Shakespeare, Marcelo Frota nos mostra o amor contido na euforia, na dor, no desamor, na paixão, na busca, na saudade, na solidão e no reencontro. Vejo e sinto isso ao ler “Amar no desespero do desejo não consumado / É ler Romeu e Julieta e deseja decepar as mãos de Shakespeare / Por escrever tal amor irracional, amor irreal”.
A você caro leitor, recomendo essa obra. Assim como eu, você vai tentar entender o amor, a paixão, a vida, mas como todos nós reles mortais, vai ficar com gosto de quero mais e perceber que não temos uma resposta certa. Como indicação dessa obra, deixo uma frase de Vinícius de Moraes que diz “Ser feliz é viver morto de paixão.”, então, viva!
Bio da resenhista
Francieli Oliveira é professora e escritora. Nascida na cidade de Ijuí, no Rio Grande do Sul, tem por paixão os livros, os quais adora colecionar. Ama a literatura, e pelo amor que tem pelos livros e suas histórias, se tornou escritora. Amante do cinema e da boa música vai dos clássicos aos modernos. Em suas constantes leituras, não pode faltar livros de terror, suspense e uma pitada de sobrenatural.