por Jean Narciso Bispo Moura – poeta e editor
A negra cor das palavras, livro de Alexandra Vieira de Almeida, 102 páginas, publicado pela editora Penalux, 2019, é um livro que conflaga para si, à primeira vista, o pensar e o fazer literário, mas há nele um evidente derramar de outros sentidos que se esparramam contidos nas páginas em um lusco-fusco.
Ao ler a autora veremos floresta negra, mar, sol, estrelas, céu e lua, ambientes mágicos enveredando por lugares oníricos. Há paredes secretas na escrita de Vieira de Almeida que se fixam como pontos cardinais que direcionam despertados de referencialidade.
A poética de Vieira de Almeida singulariza a escrita guiada pelo horizonte da apreensão do escrever e posse autêntica do escrito, confabulando numa incessante procura pela poesia, ficando um meneio ainda que sutil do poeta itabirano.
A poeta utiliza habilmente a tática de descolorir o aparente, com o tino de mostrar o branco e o preto, em espaço contrário, recompondo deste modo a escrita histórica do mundo.
A poesia de Alexandra é entremeada por versos fortes, que captam a realidade das pessoas no mundo sensível.
No livro, A Negra cor das palavras, a poeta vê o xadrez como o mundo e as suas figuras como representações de disputas, peleja para dar o xeque-mate na intolerância, racismo e desconstrução humana do outro.
Alexandra apresenta-se como um demiurgo que através da escrita apresenta um mundo cinza e soturno, nascido da oposição humana entre o branco e o preto, pois nesta trágica constituição civilizatória, que impera a violência silenciosa e verbo-sonora, capitalizando em disparidades e predominando no imaginário como uma produtora simbólica de força e poder.
A poesia de Alexandra desce ao cadafalso e espia as milenares cruezas humanas, vê as diferenças impostas pela coloração da pele e faz um registro em que o jogo nasci da fonte da palavra que alimenta a alma e o sangue de todos os homens.
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