Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura
A insônia seria algum item recalcado pela consciência enquanto temos olhos abertos? Se a cine-câmera diária recolhe as informações do dia a dia, quem é o diretor que coleta, cataloga e ordena o que pode e o que não pode servir de arquivo? se o repouso parece um exercício acomodado de relaxar o corpo, por que temos pesadelos enquanto estamos acomodados à cama? Penso no poema enquanto prática de inquietação. Ouço ruídos de palavras acesas que queimam. Sentidos à flor da pele.
O poeta Sérgio Aral saiu da cama para botar um despertador poético, seu livro Insônia amorosa, editora Penalux, expõe este dilema contemporâneo de andar sobre a cama, levitar sobre o sono, tendo ao invés de digestões, congestões de insânias dos olhos abertos. Mas caro leitor, o poeta não reclama, e sim declama o poema com estes inventários de como fazer. Com uma biografia de alguns dias. Amar, trepar, sobre tudo que você gostaria de saber e não teve coragem de perguntar.
Com uma fina ironia, ele descerra com olhos bem abertos toda uma poética sobre o homem insone, sua metodologia, e o mais interessante, como a insônia revela uma caráter de paradoxo, da vida em seus desregramentos, como se o prazer fosse proibido enquanto norma reguladora. Faríamos coisas enquanto acordados? sob a ótica de uma noite vendo TV, lendo livros, vendo aquele filme clássico na alta madrugada, Sérgio parece desnormatizar algum tipo de estilo de vida, ou até problematizar o meio social que se vive com, traumas, problemas de pandemia, talvez o poeta fale para gente que a situação precisa de calma, a regulação do corpo social precisa abaixar a poeira, para que a noite não seja uma cerca proibindo animais indóceis de ultrapassá-la.
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