Nascida em Juazeiro do Norte, Cariri cearense, em 5 de fevereiro de 1984, Dia Nobre é historiadora, escritora e poeta. Possui dois livros publicados na área da pesquisa histórica, (O teatro de Deus de 2011 e o premiado Incêndios da Alma, publicado em 2016). Atualmente vive em Petrolina (PE), onde trabalha como professora universitária desenvolvendo projetos ligados à literatura, história e feminismo. Seu livro de poesias, “Todos os meus humores”, está à venda no site da Editora Penalux.
somos um país jovem, eles dizem,
ainda temos muito a aprender
não existe mais racismo, eles dizem,
os negros que aparecem na tv
não foram mortos por sua cor
nós amamos as mulheres, eles dizem,
por isso as queremos presas em gaiolas
cortadas, moldadas em corpetes apertados
para o nosso deleite visual
não temos nada contra
a comunidade lgbtqi+, eles dizem,
mas se for um filho meu
eu mato de pancada
fazemos caridade para os pobres, eles dizem,
mas os queremos assim: pobres.
sem saúde, educação e direitos trabalhistas
que trabalhem até morrer porque
o trabalho dignifica
deus acima de tudo
pátria acima de todos
mas vamos matar o país
tocando fogo nas florestas
e enchendo o mar de lama
– há um plano para nos exterminar
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o mundo nos diz para esperar
quando for maior de idade
quando estiver pronta
quando for seguro
o mundo esquece
que não há idade
para que nos violentem
que não há como estar pronta
para esse mundo que nos oprime
que não há segurança que nos proteja
do perigo que é ser uma mulher.
– sem título
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tenho pulmões pequenos
brônquios estreitos
alvéolos frágeis
me falta o ar
e uma tosse seca
convulsiona todo o meu corpo
tenho um coração enorme
que ocupa o meu corpo inteiro
bate acelerado avisando
que pouca vida me resta
e que é necessário
apreciar as impossibilidades.
– quarentena
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