ENTREVISTA| Fernando Andrade entrevista o escritor Andre Klojda

ANDRE KLODJA REVISTA DE POESIA - ENTREVISTA| Fernando Andrade entrevista o escritor Andre Klojda[

 

 

FERNANDO ANDRADE: Seus contos e sua ordem no livro estabelecem de forma muito sutil uma certa constituição de formação…  Começamos na infância tateando o jogo, as brincadeiras e o lúdico. Em seguida, adolescência, futebol, a juvenília, e entramos nos contos onde a literatura entra como forma de uma relação com a vida dos seus personagens. Em todos os processos identitários, há a imaginação como lida, com a dinâmica da vida. Como foi criar este percurso relacionando vida e ficção?

ANDRE KLODJA: organização dos contos como um percurso foi posterior à escrita. Os textos não foram concebidos com o intuito de compor uma coletânea: na verdade, foram pinçados entre os contos que escrevi ao longo dos anos. Foi nesse processo de seleção das narrativas que resolvi traçar uma espécie de itinerário de formação. Talvez isso tenha raízes no meu gosto por romances de formação ao estilo do Wilhelm Meister, de Goethe.

 

 

FERNANDO ANDRADE: A fantasia para Italo Calvino tinha elementos imagéticos das tensões que se davam em leveza, consistência entre outras características. A imaginação, o sonho, o pensamento, são elementos carregados de pulsões. Mas seus contos não lidam tanto com este lado Thanatos da pulsão. Eles revelam mais um laço de uma certa criatividade em ouvir os espaços, as lacunas onde se desenham a fábula dos seus enredos. O que você acha?

ANDRE KLODJA: Acredito que essa “criatividade em ouvir os espaços, as lacunas” seja uma  característica aprendida com a leitura de Kafka, minha principal influência como contista. É autor de narrativas que são tão curtas quanto reveladoras. Quanto ao conceito de imaginação, ressalto a leitura do Castelo Interior, de Teresa D’Ávila, como influente na minha percepção. Como discorro brevemente na apresentação do livro, abordo a imaginação especialmente como um meio de apreender elementos da realidade.

 

 

FERNANDO ANDRADE: Há uma intertextualidade em usar a literatura como um jogo de referências, onde o texto é sempre infinito e é percorrido de acordo com a potência do leitor em seguir as pistas deste labirinto. Como foi utilizar a leitura como exigência de um duplo?

ANDRE KLODJA: Escrever é dialogar com o leitor – mesmo que apenas um leitor potencial, no caso de textos que sequer sabemos se serão lidos por outrem algum dia – e com os demais autores, ou seja, é estar sempre acompanhado. Borges, no poema Mis libros, sintetiza bem o transbordar do texto: “pienso que las palabras esenciales/ que me expresan están en esas hojas/ que no saben quién soy, no en las que he escrito. /Mejor así. Las voces de los muertos/ me dirán para siempre”.

 

 

FERNANDO ANDRADE – O contar e narrar; há neles mil possibilidades de tanto gerir identidades como apagá-las, criando uma espécie de universo coletivo onde Xerazade pode até ser um anjo, e uma mulher encarnar o tempo. O corpo da gente é material, mas nossos emblemas são todos etéreos… Fale disso.    

ANDRE KLODJA: Essas questões, penso, vão ao encontro das realidades apreendidas pela imaginação. Às vezes, essa mistura de tradições, mitos, conceitos etc. é o meio mais direto de representar aquilo que se quer dizer. Em Eu sou o Tempo, por exemplo, transformar o tempo numa pessoa foi o jeito que encontrei de aglutinar ideias que tive lendo livros de divulgação científica e Kierkegaard – coisas aparentemente distantes, mas que, com a expansão do imaginário, conseguimos unir. Considero essa uma das facetas mais divertidas da arte de contar histórias. 

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