Mariana Belize é mestranda em Literatura Brasileira (UFRJ) e escreve no site Olho de
Belize.
Inseto
Na costela,
ponta de lança
Visgo espinhoso
Inseto voraz
de músculo e pele
Carrapato na ferida
da coxa aberta
Mosca sem nome
que beija
quando termina tua missão?
A cada noite:
raspa os ossos do cóccix
mastiga os peitos
fura meus olhos sedentos
noctívago bastardo
rastejante e alado
Escorre o segredo
nascido do teu veneno
que cura e também mata.
As perguntas de Gauguin:
três imutáveis desesperos.
Pai
És de lento cozimento
súbito, volátil, ameno
chama crua, impassível
enigma que se esgueira
As cartas não mentem jamais, pai.
Tu resides na concha das minhas mãos
És estátua frágil e cintilante
Arco sem corda nem seta
desmemoriado centauro de plástico.
eu pequena empurro as ampulhetas
espalho areia, poeira e cinzas
ergo a estrela polar para teu retorno
sem armadilhas
queimo inteira neste primeiro fogo
mas tu não te moves de ti.
Galáxias
junto poeira dos enigmas alheios.
tudo que faço tem o mesmo tom.
pra quê escrever, se de silêncio
é feita a seiva que alimenta a vida
é o silêncio:
retine o vidro e quebra o
verso
fechando a glote.
como pode este céu
ser tão
breu
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