Thiago A. P. Hoshino é professor e pesquisador de antropologia do direito e das religiões de matriz africana. Poeta intermitente, dedica-se a macerar nsabas de sua família-de-santo e folhas de sua árvore genealógica em páginas de escritur-ação.
Versos dekasseguis
A Yoshie e Kazuo, Hoshinos
Não tenho projetos,
tenho recados
de trinta mil anos
irrequietos.
Não tenho planos,
tenho poemas
a sete chaves
e outros mistérios:
fomes, esquemas,
remorsos graves,
parentes sérios
de grandes idades,
grandespautérios.
Não tenho lemas,
tenho saudades
dos dekasseguis,
cartas seladas
no sal dos mares
jamais entregues.
Não tenho lares,
altares, budas.
Não tenho fundos
e sim bem fundas
raízes postas
no chão dos mundos
donde partiram
meus ancestrais.
Não tenho rotas
nos Campos Gerais
mas campos de estrelas,
gordas colheitas.
Vim nas viagens
meridionais
sob o ditame
de frustras velas
só de origami,
entre os Hoshino
de ontem, de quando
fugiam ao mando
do Sol rapino.
Não tenho receitas,
tenho receios
de múltiplas ordens,
fundadas suspeitas
sobre os doutores
e seus remédios.
Não tenho albores
nem tenho luzes,
antes moléstias
(rastros de tédios
orientais),
surtos, pudores,
falsas modéstias.
Tenho pavores
de tantas cruzes
geracionais.
Não tenho mais,
mantenho várias
manias nas falas,
gaijins perguntas
e hereditárias
dores nas juntas
de fazer malas.
ndandá
melíflua
délfica dália
espalha
contas segui
otás-pepita
hígida habita
quartinha
do meu peji
pedrinha
no meu gongá
madrinha
rompante que
njila agita
tua mão sossega
pródiga entrega
fruto dandá
ínclita incita
aquífera cítara
oxibatá
a(l)mar
a(l)mar
alg’uma cousa
espreita a escusa
p’ra se lançar
alg’outra cousa
é só recusa
em si repousa
ensimesmar
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