Três poemas de Diana Pilatti

DIANA PILATTI LITERATURA E FECHADURA - Três poemas de Diana Pilatti

Diana Pilatti nasceu em Foz do Iguaçu/PR, mas mora em Campo Grande/MS desde criança. Professora e aprendiz de poeta nas horas vagas. Formada em Letras (UCDB) e Mestre em Estudos de Linguagem (UFMS). Autora dos livros “Palavras Avulsas” (2019) e “Palavras Póstumas” (2020) ambos da Coleção de Livros do Boldo do Mulherio das Letras. Organizou a “I Mostra Poetrix 2020”, em parceria com o poeta potiguar José de Castro (livro digital). Publica poesias também nas redes sociais @dianapilatti e seu blog Diana Pilatti

 

Elísia

esse teu abraço morno
esse teu frescor de uvas verdes
teu colo
abismo

− Você não me liga mais,
não responde minhas mensagens!

se te contasse, Elísia,
sobre minhas lágrimas
sobre meu peito partido
sobre meu mar de solidão

− Por que apagou seu Face?
− Estou usando junto com e…
− Aff. Sério?

queria, Elísia, juro
te abrir tudo
mas tenho medo
t a n t o m e d o
meu peito estilhaça

Elísia, só me abraça
quente
como uma cascata no verão
tua pele cacau
teus cachos nanquim

− Você andou chorando, não foi?

engulo as palavras
só me abraça
me impregna
com tua leveza flórea

teu peito amor
retumba uma ciranda ancestral
te aperto
e sei que existo

− É só uma gripe.
Fica.
Vamos ver um filme?

o aconchego da tua axila
minha Ágora de amenas alegrias

ainda existo.

(Poema do livro “Palavras Póstumas”, volume 5 da II Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras,  será lançado no final de 2020.)

 

 

SIM

Para Juliana Silva

Eu disse sim
Retrocedi
O tiro veio direto
Vi minha amiga cair

Outro estrondo
Mais uma, logo ali
Continuei
Eu disse que sim

Tentei firmar o passo
Estou meio lenta, eu sei
Mas disse sim

Um clarão
A nuvem sobe, acho que esse foi de canhão
O estrondo me deixou meio surda
Esse zunido alto dentro do tímpano
Eu disse sim

Estilhaços no meu peito
Sangro
Aberta
Anônima
Enquanto coisa sem nome infértil
Sou mais um corpo, eu sei
Eu disse sim

Outro tiro, dessa vez veio com o nome
Ela caiu do meu lado
Mas vou carregá-la, o quanto eu conseguir
“Ninguém vai ficar pelo caminho!”
Eu disse sim

Estou vendo o sinal
O laser no meu peito
É agora? O tiro de misericórdia?
– Não.
Aguenta mais um pouco
Então, eu disse sim…

 

 

recortes

a brisa fresca de relva
e a grama verde úmida
alinhavam-se beira-rua
sob meus pés

torpor lento e sépia
o ar tem um cheiro paz-euclásio…
enrolo meus braços na cintura magra
e aperto suavemente
a ponto de nada mais existir entre nós

pouso minha orelha na tua espinha
ouço o som da respiração suave misturar-se ao tempo-brisa

são as primeiras horas do dia
e ouro-pólen dos fios de sol riscam os pinheiros

respiro fundo
tão fundo
inerte mundo
enquanto meus cabelos -ainda longos- desfazem o vento
você faz uma curva suave no cantinho da minha bochecha…

(Poema do livro “Palavras Diáfanas”)

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This Article Has 6 Comments
  1. Beth Iacomini Reply

    Versos de intensa sensibilidade poética!
    Profundidade e evolução. Parabéns!

  2. Diana Pilatti Reply

    Uma alegria muito grande estar por aqui. Que a poesia nunca nos falte. Abraços.

  3. Nathany Reply

    Parabéns! Muito poética

  4. Pingback: Três poemas de Diana Pilatti em literatura&Fechadura – Diana Pilatti

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