Três poemas de Yuri Amaury

YURI YAMASAKI LITERATURA FECHADURA scaled - Três poemas de Yuri Amaury

  Yuri Amaury nasceu em Curitiba em 1991. Atualmente, conduz pesquisa de Doutorado em Estudos Literários na UFPR. É autor de Agáloco|transviscerações (Editora Urutau, 2020).

 

 

(dois poemas de Agáloco|transviscerações)

iii.
Penso teus pés nus
no tapete da sala
afagando os cacos de vidro
que restaram, mínimos,
da limpeza, com a pele.

Lembro tua pele tão crua
tela encarnada chamando
sem chamar o que
em mim desconhecia
até ser chamado.

Penso a concretude
da nudez se erguendo
do chão até as saias,
e como essa nudez
de pele pura e nua
se oferecia a toda
possibilidade de toque;
a tudo em redor, e
inteira, e olhando
direto em mim.

Lembro teu corpo
me olhava mais que
teus olhos, a vidência
da tua boca dizia cena
por cena o futuro,
sem sons, promessas
aguçadas nas pontas
dos lábios:

as explosões
do encontro da tua
pele com a minha,
cores no escuro das
abóbadas das pálpebras
fechadas, vertigem
do corpo em contato
no imenso do outro;

o passo em falso,
dissolução da carne
na carne, fundir
na força do toque
reiterado de entranhas
os nossos confins,
encostar no fundo
do teu lado avesso
até nada mais meu
poder entrar –
me esvair
todo em você
e deixar só os ossos
junto dos teus.

 
 
Corcel sem corpo

Pervade a imagem acústica da
presença da geografia, ou cada
ser que sinaliza a sua essência
em movimento de ar; a massa
que há a consubstanciação das
coisas se as curvas das conchas
que ouvem são prontas.
Houvesse
tímpanos de vibrar com o que cada
ente prolonga no espaço, saber toda
forma, substrato e pergunta faria a
doçura acordar imensa em nós da
aniquilação.
E suas mãos, com a
certeza de agarrarem, e os golpes
que vibram na pele do chão as
suas extensões, fazem a fusão
necessária: no toque do casco
ponteado rítmico do solo, te
encontra o instante pulsação
de toda matéria, respiração
do que há nas serras – não
é teu corpo, o teu corpo.

 
 
(um poema de O Corpo do Trovão, livro em elaboração)

                                                                                                                                 a M. Marino

Você vem
desde a hora mais
crepuscular da minha
memória – ruas vazias,
o ar frio em volta
das folhas do pessegueiro
e as mariposas
acordando –, através da
claridade das marés
em vazante, até aqui
e agora, esse lugar
na borda da cartografia.
Fios das manhãs sem
nomes presos nas
tuas roupas e o
cheiro da madressilva
se espalhando.

 

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