por Fernando Andrade | jornalista e crítico de literatura
O editor pede ao jornalista para cobrir um fato. Não é um fato misterioso, pois, talvez se fosse, iria o escritor para antecipar apenas com sua película retina toda a borda do acontecimento e não seu núcleo. O autor iria ao entorno buscar os áudios de um sobre falar. Depoimentos não, eles mentem. Mas o jornalista quer a notícia em si, seu cerne ou seu berne para que o foco afugente toda a filosofia ou o debate sobre a ação em transcurso. Ele vai responder o lead somente e esquecer a brisa que sopra das consequências ou desdobramentos do evento que não é estanque em si. A diferença de um notícia de um jornal, ela enquadra um formato que não difere muito de um editorial onde um articulista ou chefe fala sob uma direção do fato.
Por que estou aqui teclando neste ponto que nem parece ponto final. Adriano Moura em seu livro Invisíveis pela editora patuá monta um macrocosmo de uma realidade muito familiar para quem mora em uma grande cidade ou metrópole. São situações dramáticas que podem até sugerir alguma pauta de um grande jornal. Mas a esperteza do autor está botar uma grande angular nas suas reflexões sobre assuntos que poderiam se fosse apenas mote da grande imprensa passar por notícias rápidas sobre o dia anterior.
Mas Adriano eleva suas histórias para um drama que até elenca à uma força russa, digamos sobre o sentido do evento, pois revela dentro de cada casa, de cada ambiente nucleado, onde as relações sociais se fazem pela medida de força do que se chama no Rio ou em alguma cidade onde há uma concentrada desigualdade social, você sabe com quem tá lidando? ( falando?) A estrutura patriarcalista e hierarquizada possibilita aos brancos e da classe-estirpe nuclear, falar ou proclamar como se fosse uma certa fundação em torno de si. Aqui falamos do ego burguês.
As relações como do casal que devolve o filho pois na barriga da mulher já há uma carga hereditária que descende de um centro gravitacional familiar. Como a empregada que é esquecida depois de tanto tempo de trabalho sendo “devolvida” ao seu lar. Adriano traça com muita humanidade estas desaparições que personagens são apagados como uma cena de nevasca não deixando mais nenhum pegada-contorno, nem uma assinatura identitária. São marcas de desnascença, de despossuimento de individualidades invisibilizadas pelo racismo, pela apagamento de vontades-desejos ao rés de um chão, coletivizada pelo trabalho de ir e vir da casa ao ambiente do emprego que muitas vezes é tão sacrificante quanto 8 horas de serviço contínuo.
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