Flávia Andrade – escritora e poeta
Em Interstícios somos recebidos, de cara, pela necessidade que queremos evitar: a de encarar a condição humana da indigência perante o caos do universo. Como num evangelho de Zaratustra (de Nietzsche) o Ser ofídico brinca com nossas invenções bíblicas para nos preparar para o que seguirá: as invenções semânticas de nós mesmos.
Os poemas anarquizam o sentido do signo e querem buscar a dobra, o incessante caminho do poeta que trabalha com a água viva da palavra. A revolta do significante é também a declaração da nossa impossibilidade de ser além-signo. Os poemas retratam a angústia do embate constante entre querer escrever e querer ir além da escrita.
Fernando escancara os mares intranquilos da linguagem que nos compõe e aprisiona. E evidencia que ao cabo e em suma, fazer poesia é estar em amor e guerra com os sentidos linguísticos. O homem mental se ilude com a trajetória do tempo-conhecimento, fraco para seguir a pele que retorna eternamente, mas é de sangue que se vive, com o corpo que se escreve. De pena e lápis se fazem letras, mas é de sangue que se preenche as entrelinhas da vida, os Interstícios, da letra e os nossos.
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