Fernando Andrade – escritor e crítico de literatura
O que pode ser mais sensível do que o vi. Não vi apenas um visual: pôr do sol. Poeticamente eu vi a vida. Uma figura de linguagem? Pois a vida além do corpo que a representa e do espaço outrem que a contém é tão figurativa quanto um bom quadro cheio de camadas de tinta…. Se chego mais perto de uma catarse poética – vi minha vida por um triz…. (quantas nuances-personas haverão nela). Este triz passa a mandar na vida? Por não ser uma qualidade do ato de viver por um fio.
Não há palavra mais bonita e tão infinita em sua pequena porção de delicadeza. Se na MPB alguém pedisse uma palavra que pudesse ir longe num cancioneiro sobre toda parte de um conceito existencial do ser vivente, pois na música lidamos muitas vezes com substantivos que escapam do seu nomismo. O segredo de um Luiz Tatit, ou Zé Miguel Wisnik está em semantizar uma certa perda de um valor que os nomes carregam até opressivamente no cotidiano mais zeloso. Não é perda semântica, é um jogo que os autores fazem ao pluralizar signos e significados.
Está muito perto destas aventuras semióticas com a língua, a poeta Rachel Ventura Rabello, em seu novo livro de poemas, Triz, pela editora Penalux. A poeta se apropria do seu triz como uma ferina atriz em seu palco, aqui digamos, gestalt, pois a poeta lida com a lira do gestual da palavra e uma mui (dança) enovelada e bacante.
Aqui voltamos para vida esta via ou veia pulsante de uma pulsão criativa. Uma pulsão do desnorteio, onde a poética instaura um tipo de ética do jogar a vida em fendas ou interstícios em suas ambivalências.
Rachel joga com certo ritmos de aproximações nos sentidos quando perdem ou ganham novos contextos. Ela é exímia nos deslizes pelo qual a palavra poética faz a torção pelo corpo do poema revitalizando sons e sentidos.
Por que linguagem é um desvão de desnormatizar estigmas operantes sobre a vida nominal enquanto série que se repeti. Para sairmos de uma segurança da fala\ escrita normativa e rotineira necessitamos de uma corda bamba ( poética) que oscile significações que mexa com os espaços textuais do poema.
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