Sou jornalista, de Recife. Envio, em anexo, um conto que escrevi para o “Prêmio Contos da Quarentena” da livraria portuguesa Lello.
E se viu sozinha. Da janela da sala, a vista para o mar. Da janela da cozinha, a vista para o hospital, que atende exclusivamente os pacientes da epidemia.
Enfim, 120m 2 de solidão. Divididos entre esperança e caos.
Eis que hoje, um dia de quarentena como outro qualquer, a campainha tocou.
Ficou irritada. Afinal, o porteiro não avisou que alguém subiria. Olhou pelo olho mágico e viu um homem. Um desconhecido.
– Quem é?
– Vladimir.
– Que Vladimir?
– Maiakovski.
Gelou. O poeta, em pessoa. Na sua porta. Sem aviso. Sem tempo para trocar de roupa, passar um batom, usar o spray que colore os cabelos brancos.
Deixou que entrasse. Pegou uma de suas máscaras caseiras para ele. Já tinha uma verdadeira coleção, de todas as cores. Também borrifou álcool em gel nas mãos do ilustre visitante, porque todo o cuidado com o vírus é pouco.
Iniciaram uma conversa. E aí percebeu que estava compreendendo e sendo compreendida. Estava falando russo! Coisas da quarentena.
Ele disse a ela para “brilhar pra sempre, brilhar como um farol, brilhar com brilho eterno”. Disse que “gente é pra brilhar”.
E ela então pediu: “Ressuscita-me!”.
Inspirador Daniela Freitas, parabéns!