Um homem que pratique uma câmera como o movimento das pernas. Andar pela geografia de um continente seria filmá-lo no campo dos seus deslocamentos, esquadrinhar ações e ao mesmo tempo constituir desejos em cada pulsão-lugar que um corpo perfaz os espaços. Mas este não seria o pensamento de um narrador que utiliza a caneta – pincel – tela para criar a ilusão de uma nova realidade De uma fábrica de desejos por traz de imagens que tecem uma espécie de poética visual das relações entre lugares-pessoas? com a leitura de Entre a memória e o delírio da escritora Marina Lima, editora Patuá, experimento a sensação de mosaico do estilhaçamento onde cada conto ou experiência expõe, a mim leitor, a catarse de um modelo que precisa ser recomposto ou remodelado.
Marina tão intensa na linguagem visual, não é uma peregrina, ou uma turista que expõe fatos e cataloga estímulos, pelos países onde viaja. Em cada conto, partindo ora do estranhamento do primeiro, de cunho bem antropológico, criando faces oníricas para relações entre fora e dentro, contexto e exclusão. Mas não esquecemos de seu olhar que não é nada neutro, em ver as paisagens humanas políticas\ sociais como o tráfico de drogas do segundo conto, indiscernível de explicações da abrangência e amplitude do tema ser tão esparramado no continente.
Por que a escrita tem este poder de sombrear o contorno do expresso verbalmente escrito, que não é nada racional, pois temos tanta pulsão de medo, receios, volteios sobre o próprio corpo. É claro que o desejo de ver além provoca uma irrealização que chamo de delírio, pois apagar as fronteiras entre a ficção e real, só procriando uma segunda cortina por onde se espia uma outra ode à invenção. Relações de alteridade com o brasileiro adolescente, questões de gêneros com o professor italiano. Todos as linhas e matizes que a autora pontua ou pontilha como uma intensa agulha narrativa de tecer fios sobre o continente europeu.
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