O poeta Marcos Nasser lança Poemas de Niterói – 2º volume e reforça estética decadencista com elementos autobiográficos para abordar dúvidas existenciais atemporais e as mazelas sociais

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Marcos Jorge Nasser nasceu em Vitória, no Espírito Santo, em 1943. Em 1952, mudou-se para Niterói, local de sua inspiração. Escreve poesia desde muito cedo, chega ao mercado, no final de um ano enigmático, com o segundo volume do seu Poemas de Niterói. O primeiro, que marcou também sua estreia, foi Poemas de Niterói – O Inominado, publicado em 2019.

 

 

O segundo volume de Poemas de Niterói (Autografia) é uma coletânea de textos que tem como cenário o tempo e espaço da cidade que o autor capixaba escolheu para viver ainda na década de 1950, no município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. É um exercício do autor encarar os percalços dessa cidade – que poderia ainda ser tantas outras – sem usar atenuadores.

Apaixonado por seres e lugares, Marcos Nasser faz uso da estética decadencista para falar de si e do mundo dentro da cidade, ao decifrar sinais e buscar enseadas. O poder de observação é outra característica de Nasser. A orelha e contracapa de Poemas de Niterói – 2º volume é do professor e pesquisador Erick Bernardes, para quem a marca psicológica existente na literatura do Nasser compara-se a Baudelaire. “Talvez seja preciso ser poeta em uma cidade como Niterói, de beleza impetuosa e atmosfera sedutora, para saber sintonizar as delícias da metrópole e as mazelas urbanas consideradas pós-modernas”, define.

Nasser é um engenheiro de formação e coloca a serviço do verso as exatidões das matemáticas. Ele fala sobre o cansaço da vida, traz à tona a questão existencial sobre porque existimos e a finitude da vida, também trabalhadas por Shakespeare em sua dúvida “ser ou não ser”.

E aponta saídas para reinvenção, mesmo nos momentos que só há a vida para tirar vida, já num poema que escreveu em 1989, então com 46 anos. “(…) Múltiplo existir, são tantas as águas, / O coração sem âncoras se agita, / E circula seu espanto sem mágoas, / Sugando da vida sua própria vida”.

O autor gosta de repetir palavras, com o objetivo de conduzir o leitor ao transe, ao mesmo tempo em que vai abrindo outros significados do sentir “O tempo naquele tempo / Era a espera de outro tempo, / Mas era o tempo presente / Que ansiava pelo tempo”, escreve ele. 

 

 

O ponto principal é a tentativa de identificar uma saída diante desse beco em que, vez por outra, nos encontramos.

Esta segunda coletânea tem mais fôlego que a primeira obra, com cerca de 300 poemas, escritos desde a década de 1960. Há de questões sociais que mostram o quanto vários de nossos problemas existem há muito tempo, como a das favelas, passando por homenagens a outros artistas inspiradores, como Carlos Drummond de Andrade e observações leves e líricas sobre “Tanta ventura, / E o sol nascer na clara tarde, / Ressurgir no existir, / E flores, e pássaros, e alegrias, / E cirandas incessantes”.

Para Jorge Ventura, ator, escritor, editor, roteirista de histórias em quadrinhos, jornalista e publicitário, poeta, a poesia de Marcos Jorge Nasser é visceral e carga dramática – com versos densos – é ideal para ser lida por atores. Ventura emprestou sua sensibilidade à leitura de alguns poemas, disponíveis no Canal Marcos Jorge Nasser no YouTube (https://youtu.be/KnxAqus5_00 e https://youtu.be/8Gvdns4IIOg).

Ao longo das décadas, a obra de Nasser fica mais sombria, menos otimista. Ele acredita que pela finitude que se aproxima de todos, pelos tempos históricos, pela ausência de utopias fortes o suficiente para convencer a continuar adiante. Mas, apesar do tom mais cético e até mais ríspidos, os poemas jamais esmorecem, já que não há muita escapatória.  Se “Somos sem destino”, como escreve em 2010, também lembra que há uma flor a brotar nesses momentos menos prováveis, uma flor parente daquela que brota no asfalto: uma “flor do caos”.

 

SERVIÇO
Poemas de Niterói – 2º volume

Editora: Autografia
Formato: 16×23 cm // Páginas: 358 // Preço: R$ 55,00

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