por Marcelo Frota | escritor e professor
Em seu livro de estreia intitulado Verdades Subentendidas: Ponto de Ruptura (Editora Penalux, 2020) a autora Francieli Meotti Oliveira deixa o leitor nostálgico, apreensivo, eufórico, e, por vezes, desconfortável, mas com toda a certeza, com uma vontade voraz de gritar ‘Ali está o diabo! Acordem!’, mesmo que tenhamos a consciência que os personagens não podem nos ouvir. Com a expectativa de saber como o enredo se desenrolará, o leitor acaba hipnotizado, devorando cada página como se fosse a última.
Impressionei-me muito com a leitura dessa obra, pois os contos, apesar de abordarem temas pesados, possuem uma fluidez na leitura que nos faz querer virar uma página depois da outra. E quando percebemos, chegamos ao final do livro com gosto de quero mais.
Adentramos em cada história, nos transformando em uma espécie de detetive, tentando desvendar os mistérios, procurando por provas para saber quem é o culpado e mesmo pensando em ter a certeza de que tal personagem fez tais crueldades, no fim leitor, temos a certeza de nos surpreendermos.
Como diz o título dessa resenha, essa obra não é o que parece ser, e o caro leitor, vai descobrir isso em cada conto, adentrando em cada história com a certeza de que nas entrelinhas estão às respostas que no fim irão se revelar, mas deve prestar muita atenção, pois as entrelinhas enganam. A morte é um fator certo, mas inesperado, e o medo se torna o fiel inimigo que estará sempre presente.
Com sua narrativa assombrosa e complexa Francieli Meotti Oliveira apanha o leitor como se fosse uma aranha, pois o envolve em sua teia, encurrala-o e ‘encasula-o’ para o abate, isso me fez lembrar das séries Dark e Pretty little liars, com suas analogias investigativas, onde um personagem se relaciona a outro virando uma grande teia de aranha.
Os contos baseados em suspenses policiais, cujas narrativas contemporâneas e fluídas me fizeram lembrar séries policiais norte-americanas como CSI e Criminal Minds, mostram que a morte espreita a cada esquina, e muitas vezes, a morte está dentro de nossa própria casa, esses são fatos que conduzem o leitor a uma jornada que o vai consumir sem que ele perceba.
Um dos contos que me chamou atenção foi O colecionador, pois nele percebi que o mal muitas vezes não vem no formato esperado, notei isso quando li “Quando finalmente cheguei perto o suficiente, pude ver somente os pés da pessoa, mas aquela bota… aquela bota preta de salto ato, com um solado emborrachado e preto, estavam perto da mochila de motoqueira que eu sabia que era de Bree.”.
O conto que abre o livro, Sangue na neve, deixaria Hannibal Lecter com um sorriso de orelha a orelha após um jantar refinado, apreciando a leitura de “Ao chegarem lá, Adam não teve coragem, nem estômago para ver aquela cena novamente. Haviam vários pedaços de corpos de pessoas espalhados pela neve, todos os corpos que estavam mais inteiros estavam sem o topo da cabeça, sem os olhos, a língua, com o peito aberto, e de cada um deles, faltava algo, algum órgão que não se encontrava em nenhum corpo e nem no local.”.
Assim como aconteceu comigo, sua inocência será roubada, ou o que sobrou dela. Por último, faço questão de fazer uma relação entre o conto Inocência roubada com o livro ‘A Menina que Roubava Livros’ de Markus Zusak. Assim como na obra de Zusak, Francieli Meotti Oliveira também usa o cenário da segunda guerra mundial para apresentar como a morte tem várias facetas.
Nesse conto, o leitor deve pensar que por estar enfrentando uma guerra, seja natural que a morte seja iminente e que possa até ser considerada casual em decorrência dos acontecimentos, mas não nessa história. Pois aqui, já aviso para as almas mais carinhosas e sentimentais prepararem o lenço, pois o mesmo pode ser necessário. Aqui percebemos que o horror do homem está na figura que menos se espera, que deveria estar ali para acolher, para acalentar.
Convido-te caro leitor a desvendar os mistérios contidos em Verdades Subentendidas: Ponto de Ruptura de Francieli Meotti Oliveira. Nesta obra você vai se tornar um detetive, um agente investigativo, assim como em CSI e Criminal Minds. Você vai descobrir o quão sinistra pode ser a natureza humana. A meu ver, este livro é indispensável aos fãs do gênero.
Pode ser audácia minha pensar e dizer o que vos falo agora, mas não me admiraria se os contos de Verdades Subentendidas: Ponto de Ruptura virassem série, assim como aconteceu com a série ‘A maldição da Residência Hill’, que até tem uma sequencia agora nomeada ‘A maldição de mansão Bly’, o que nos resta é esperar para ver!
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