por Fernando Andrade| jornalista e crítico de literatura
Empatia não apenas nos atos onde conhecemos o outro e trocamos algum tipo de relação com ele. Seria um modo empático para com mundo, o entorno. Mas ser o eu no mundo, ainda mais agora, requer, uma disposição que seria, um pouco, altruísta? Com tanta agressividade, desinformação. Quem nunca viu numa imagem de alguém chegando à uma árvore e abraçando ela numa sensação de acolhimento e pertencimento. O mundo adoece, mas também nós sofremos com certo psiquismo onde neuroses e paranoias parecem forçar uma blindagem antidefensiva\emocional.
Os personagens do livro da escritora Suzana Montoro, Travessias, editora reformatório, são tão curiosos, com o outro, naquela pano guardado onde estabelecemos o que se chama de laços sociais. E como se os personagens da autora quisessem descobrir o que tem por trás de uma ausência, do outro lado da porta de uma casa. Não é apenas ver o entorno com suas pessoas, e também desvelar as particularidades de cada madeira entalhada nas casas, lugares por onde um ser já passou e tocou com a ponta do dedo, uma ruga de intimidade.
Suzana não vai por uma senda de ação discursiva onde o espaço é varrido por uma linguagem descritiva e visual. Os espaços são acolhedores e íntimos mostram os sentimentos dos personagens em contato com o acaso de um adoecimento de alguém na fila de um cinema, e como é para importar-se ou não como a anima do próximo. Alguns têm medo do mar, mas a autora não faz destas sensações, fraquezas, mas sim, aquela palavra que temos como parte íntima do eu, idiossincrasias de cada um quando avassalado pelo largura do mundo.
Suzana tem a capacidade rara e enxergar o outro e descrever sentimentos sem pieguice e sem julgamento.
O livro é uma preciosidade.