COISA DE PASSARINHO É CANTAR, É RESSOAR E ASSIM SE RESSOA AS PALAVRAS DE ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA… | por Marcelo Frota

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Marcelo Frota | escritor

MARCELO FROTA FOTO 2 150x150 - COISA DE PASSARINHO É CANTAR, É RESSOAR E ASSIM SE RESSOA AS PALAVRAS DE ALEXANDRA VIEIRA DE ALMEIDA... | por Marcelo Frota

Vamos falar de livros? E para começar o papo de hoje com você caro leitor, trago a indicação dessa obra que de cara me conquistou pelo jeitinho com que a autora trabalha com as palavras. Em sua obra O Pássaro Solitário (Editora Penalux, 2020), Alessandra Vieira de Almeida, devo alertar-te leitor, vai te conquistar nos primeiros versos, nas primeiras estrofes, nas primeiras rimas.

Em seu constante jogo de palavras e sabendo usar sabiamente as metáforas, a autora contrapõe as nuances de tudo que ocorre na vida do ser humano e joga tudo para dentro de seus poemas com tamanha maestria que envolve o leitor em cenas quase que cinematográficas, as quais encenam a vida não somente da autora, mas de quem ousar ler sua obra, pois sim, o leitor vai ver seu cotidiano, vai conseguir ver-se sendo projetado nessa obra.

A obra O Pássaro Solitário (Editora Penalux, 2020), é a sétima produção da autora.
Esse livro contem trinta e três (33) poemas que abordam temas que transitam desde o místico até o erótico, dentro desses cenários, a autora aborda questões existenciais trazendo interrogações e interpretações acerca do ser humano e do mundo ao qual ele habita. Um dos temas decorrentes que a autora trabalha e não poderia deixar de trabalhar foi a pandemia da Covid-19.

Dentro desse tema, a autora em seu poema nos expõe um pequeno vislumbre de como seria o planeta após a pandemia deixando ainda ao leitor uma mensagem de esperança e de certo modo, porque não dizer de beleza e fé que foram transmitidas por meios de suas palavras poéticas. Alexandra procura apesar de todo o caos da atualidade vislumbrar e passar uma mensagem otimista.

As emoções pós-leitura ecoam e costuram no fundo da alma, um bater de assas em meio a um redemoinho de acontecimentos e sentimentos, de realizações e invenções, e acabam por trazer lá no fim do túnel, um arco-íris de intensas revelações. Esse bater de asas pode ser confundido com o ruído dos dedos quando batem nas teclas de uma máquina de escrever, de forma frenética que colocam agora, no papel antes branco, as ideias que antes martelavam no pensamento.

Quando se entra no jogo de palavras e metáforas em que a autora nos joga uma realidade que por vezes é efêmera, por vezes evasiva, outrora sufocante, ou até mesmo acolhedora, você adentra a um redemoinho e não sabe onde vai parar amanhã, não sabe nem sequer onde estará daqui a poucos segundos adiante. A única certeza que terá, é a sensação do coração pulsando tão acelerado que vai até parecer que você está com um beija-flor dentro do peito.

A própria existência humana preocupa o ser humano e esse fator precede a essência do ser, isso pode ser evidenciado no poema que intitula essa obra O pássaro solitário quando fala “Dentre os pássaros, um rei / encolhido, solitário / na sua plumagem dourada / contradiz os sons e alaridos. / O silêncio se acostuma com as horas / Pássaro e ousado / a leitura do mundo em seus olhos.”.

Na busca constante em saber e entender as questões que norteiam nossa própria existência, nossa própria essência, o ser procura se comunicar com o mundo em que habita, e assim como um pássaro solitário, bate suas asas e compartilhar seus simbolismos, dúvidas e mensagens de esperança. É nesse contexto que Almeida nos apresenta o poema Livro, vejamos um trecho dessa escrita a seguir.

Para entender a minha essência, a sua ou a da própria autora, leia: “Livro é como indivíduo / em sua vastidão, não. / O fantasma se encolhe no seu próprio medo / o poeta ultrapassa seu espectro, onda. / As tintas percorrem o papel / só o poeta se desdiz e ultrapassa a muralha. / Livro e indivíduo, o lento jogo do fogo / as letras se encarnam em pedras, tomam corpo / transformam-se em seres, o que era osso / se adensa na forma, carne. / Livro que
vivifica, sopra o espírito no corpo / sopro e forma, arte e vibração. / O indivíduo não mata, só ata a atadura das palavras / nos papéis vagos da memória.”.

Nas palavras de Tanussi Cardoso (quem assina o prefácio dessa obra), que é poeta, contista, crítico, jornalista, compositor e letrista, os versos da poesia de Alessandra Vieira de Almeida são “árido, forte, rascante, corta, asfixia em sua virulência verbal e radical” (p. 8).
Portanto é imprescindível dizer que a autora conversa com o leitor por meio de sua poesia para que este dialogue com ela diante a leitura de sua obra.

Correto é afirmar também que a Almeida “busca constantemente o outro ou alguém para compartilhar a vida e fugir do isolamento, embora exista sempre um elo perdido, na possibilidade do encontro consigo mesmo.” (Cardoso, p. 8). Em seu novo livro – O Pássaro Solitário (Editora Penalux, 2020) – a autora Alexandra Vieira de Almeida que também é contista, cronista, resenhista, ensaísta, professora e Doutora em Literatura Comparada pela UERJ, pretende não continuar mais sozinha e por isso, ecoa e ressoa suas palavras, seu pensar para o mundo.

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