Seis poemas de Fernando Andrade

paula sancier foto 2021 fernando andrade - Seis poemas de Fernando Andrade

crédito: Paula Sancier

 

 

1
Contigo ergo
O otimismo, mesmo num átimo
Me entrego.
Contigo pego
A rima a perigo
E entrego a um misantropo no troppo.
Contigo persigo
o lugar, não desligo,
Ligo-te para dois números primos.
Contigo canto
Uma cantiga
Enquanto nós dois rimos
De uma antiga história daquele antro.
 
2
Você que ouve e lê, coisas seriam?
Iscas para os signos.
Se não há nomes, faces
Para as coisas
E nem muito de você
Seguimos eu, tu, ele e nós
Neste avesso das coisas
Onde tudo é dia\ data e mês
Sem contudo identificar
O estatuto das coisas
De onde elas ficam? o que são?
E para onde vão no vão de quê?
É o lugar das lousas.
 
3
Lívido: um rosto perdeu a face
Antes de dormir comeu uma alface
Viu que seu corpo tinha um zoo
De animais que apenas comiam carne
Seu corpo eram jaulas
De poucas falas, de vozes ganidas
Que animal fugia
Para atacar as suas palavras,
Pois de tão agressivo, eram leões,
Eram cutias que curtiam petiscos
Pois só tencionado podia aprisionar novamente
Estes bichos que não queriam nem os seus intestinos,
Nem uma boa acolhida no  coração,
Músculo sangrado de boas intenções.
 
4
Meia-noite dos seus dias
Um dia ao meio
Para que lhe encontre norte
E que lhe abrace o corpo.
(somente o corpo)
Uma semana que não chegou
Pois a meia-noite dos seus dias não apareceu
O tempo dos prazos que não se prorrogou.
O livro jamais lido\ a porta que não mantiveram aberta,
Por falta de batente, a alma trôpega na luz
Bêbada por absolvição,
Os homens que não trabalharam nunca mais
Porque as máquinas de desejo não vieram inteiras.
 
5
Zizek para mais um contra ataque
Sigmund Freud deu pra tocar atabaque
Vida aguerrida, som, fumaça e Rock&Roll
Sigilo, vilão, eu no baque, não estou para rolimã.
 
6
Todos os astros tanto do céu
Quanto aos que usam chapéus
Perderam suas ilusões
De seu ego de artistas feridos,
Com suas canções de velho blues
E que astros nos deram enredos?
De filmes, moços e vilões,
Os cineastas com seus credos,
Suas lentes, e religiões.

FERNANDO ANDRADE é poeta, contista, crítico de literatura e jornalista.

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