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Fernando Andrade – escritor e crítico de literatura
A ficção é arte no escuro. As palavras deslizam no vazio, sem corporeidade. O escritor vai além da lembrança, sua memória é uma civilização a encontrar perdido um desmoronamento do sujeito. Mas que busca podemos realizar deste sujeito? Vago e vagante, pelo mundo cada vez mais em pedaços de escombro. Confiar não é um utensílio para contar, um mote. Seria mais uma arte da desconfiança no fio rasgado da narrativa em labirintos da ficção. Quando se perde este fio também se perde a tessitura da memória? A ocupação deveria nos deixar mais tranquilos, pois é pré-requisito da ocupação da mente, laboriosa em ter seu espaço doutrinado de ação.
Mas vejamos o personagem do romance A busca dos loucos, do escritor Fauno Mendonça.
Ele tem um escritório, onde recebe clientes, para negócios. Uma pessoa como um personagem em linha tracejada sem preciso contorno, não nucleada: mais uma linha de fuga.
De poucas palavras e silêncios retintos. Vem acompanhado de uma bela mulher. O narrador investiga os dois, mas se sente atraídos, diferentemente, pelos dois, com ambivalências maior pelo homem.
Fauno com uma linguagem preenchendo o mundo imaginoso do narrador tece uma espécie de projeção do ego de um homem, doido para entender o mundo à sua volta, sobre uma figura misteriosa que não diz para o que veio e só deixa rastros de vácuo. O mundo interno do narrador é feito de palavras que vão deslizando entre um pensamento auto imagético -reflexivo, sua inautenticidade perante um real não tão concreto, com objetos à volta que parecem ruir.
Mas como amarrar sincronias de pertencimentos, quando a percepção dos outros se dá por via imaginação e delírio? A espera é o lugar do devaneio, e da ficção. Fauno cria uma interessante relação entre a ficção e o ato da relação ao outro, pois ambos se fazem de espera por palavras que forjam acontecimentos e depois destinos. As voltas com o homem e a mulher, o personagem cria uma linha de auto engano? sobre a periculosidade da vida em círculo com seus acontecimentos. Sair com a mulher para uma conversa mesmo que para investigar o homem parece destrancar as fechaduras do ser.
Quando a secretária some, o narrador se vê perdido na única ponte que ele mantinha com relação ao escuro dos seus movimentos. Mas é interessante notar que o processo de ocupar o espaço através de lacunas onde o real não estabelece, pois imaginar em excesso não dota o mundo, de fundo. Não afaste dele uma noção de consciência pesada sobre seu fardo em viver sob alguma pulsão da morte. Ele se reconhece plenamente em suas formas de existência trôpega e claudicante.
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