Entre o sagrado e o profano em ‘Eu não sou a protetora de coisas frágeis’ | por Marcelo Frota

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Marcelo Frota | escritor

MARCELO FROTA FOTO 2 - Entre o sagrado e o profano em 'Eu não sou a protetora de coisas frágeis' | por Marcelo Frota 

A poesia de Íris Ladislau é um mosaico de dramaticidade. A jovem autora mineira traz para seus versos um universo de amores plurais, ora tenros e possíveis, outrora permeados pela desgraça. Um amálgama entre sagrado e profano, como se Deus e o Diabo encarnassem na mesma alma, mostrando a beleza e o horror do estar apaixonado. Uma montanha russa, como é, e sempre foi o amor, com seus altos e baixos, com suas excentricidades e peculiaridades. Talvez melhor que montanha russa, roleta russa, pois nunca há a certeza de quando será disparado o tiro fatal.

Eu não sou a protetora de coisas frágeis (Editora Penalux, 2021), é a soma de todas essas tensões. O eu-lírico de Íris Ladislau nos conduz por um emaranhado de pequenos labirintos, em que a saída parece nos conduzir para um abismo. Cair, ou se jogar nesse abismo, é algo que somente o intimo de cada leitor é capaz de decidir. Escolho jogar-me, pois assim, e experiência se torna mais completa. A leitura, um afogamento.

Em Liturgia, a integridade do amor é posta em xeque. “Olhos inquietos, meu amor/espero você despertar/Acordei hoje pensando que talvez/você tenha armado uma armadilha para mim/Quantos anos passarão/até que você aprenda a falar a verdade?”. O questionamento, sobre a verdade no amor, é algo almejado por qualquer apaixonado. É também a verdade mais difícil, pois amar, é entregar-se e confiar. A entrega é a parte fácil, a confiança, é posta a prova diariamente.

A autora parece buscar a confiança suprema, onde pequenos segredos não existam, onde, talvez, inofensivas meias verdades, não tenham espaço. É uma busca vã, insólita, impossível. Amar é acreditar na verdade maior, ou na mais verdade. Um amor livre de mentiras, só existe na ficção, talvez apenas em Romeu e Julieta, de William Shakespeare, e, só ali existe, pela morte prematura dos amantes. Amar é arriscar, é ferir-se, e cicatrizar.

Em Portões, o salto de fé é a tese da desilusão. “A princípio eu só queria brincar/uma criança brincando em precipícios/O brilho do rio no vale/me fez me jogar/e em vez de voar/eu afundei/em seus olhos/anjo de luz”. Aqui os versos, remetem ao amor, e ao suicídio que precisamos nos impor para dividir nosso eu. Amar, é separar-se em dois, criar dois eus, duas identidades. É apostar todas as fichas no jogo de cartas e esperar pela mão vencedora.

O poema não traz a resposta, nem se propõem a dar pistas do por vir. Embora, seja perceptível que a paixão se formou, tornou-se realidade com o “eu afundei/em seus olhos/anjo de luz”. Eu, não nós. Terá esse mergulho sido acolhido? Terá esse jogar-se, sido correspondido? A resposta, está nos olhos de quem lê.

Entre amores e decepções, ânsias e rupturas, se constrói os alicerces de Eu não sou protetora de coisas frágeis, um livro com voz própria, e contundente, que se propõem a esmiuçar as faces do amor por todos os seus ângulos. Leitura noturna, com café e quem sabe um uísque, ou dois. Quem venham mais livros de Íris Ladislau. Aguardo ansiosamente por suas próximas obras.

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