por Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
O novelo encobriu tanto o fio solto da história que este transformou-se em ficção, o nó da fábula.
Inventar é um pouco como tecer mentiras sobre o que temos na cara: os olhos. Se a visão é a parte de entrada do real que logo na passagem de Cronos se transforma em memória, matéria-prima da literatura.
Os olhos seriam, então, uma breve caneta onde fazemos um primeiro palimpsesto, antes de gravar-play, tocar. O ato de inventar seria então um tipo de autoengano sobre reversões do que vemos? Jogar seria trocarmos os símbolos da matéria vida por algo que possuísse uma espécie de dança mimética do que vemos.
Faz algum tempo que um autor não vai tão à fundo nesta relação tão forte de ver as coisas e reassimilar através da ficção, outras fábulas sobre o ato de ver e brincar de atazanar as agruras da vida cotidiana.
Mário Baggio faz textos sobre o corpo, auto-percepção, numa sexualidade de uma menina, um autoengano de uma mãe que se recusa a ver que o filho está morto, e tece com palavras que poetizam esta inclinação de um humor que parece reverter ora em saudade ora conforto.
Para isso, temos na sua escrita zonas onde o afeto se transforma em outros tons, as palavras mudam de cor, para ver a beleza de um estado sobre pertencimento.
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