Fernando Andrade – escritor e crítico literário
O amor quando bate no corpo não mede palavras. Quando amamos um corpo é como um copo cheio ao transbordar. Não existe precisão onde a régua do afeto puxa tanto palavrão, aqui não digo o nome feio, mas sim, a palavra que não tem pulso, que excede sua forma de expressar, como quando se diz que o amor tonteia a intensidade quando bate na pele.
A pele é um exercício de passar pelo signo\significado. Por isso, o primeiro contato do amado quando é correspondido pelo outro é a superfície onde se escreve uma caligrafia própria dos sentimentos, muito próxima da poesia. E a poética é um ato de intensificar esses sentidos, de figurar imagens que passam por uma simples definição dos seres e coisas.
Quando escrevo sobre o amor, desfiguro o rosto da linguagem normativa, aquela que põe uso nos objetos. Porque o amor não cabe em si, precisa demais do outro, não dá pé, dá a cabeça num giro estonteante de desvario. O livro do escritor Michel de Oliveira, O amor são tontas coisas, editora Moinhos, é esta imprecisão para o descabimento da razão, quando um olhar cruza o outro, quando uma voz sussurra numa concha de ouvido.
O poeta dilata o sentido do dizer eu te amo, criando efeitos hiperbólicos, tecendo relações com animais, onde a intensidade carrega o tamanho de um cavalo, por exemplo. A literalidade da voz do dia a dia, perde sua noção perante o processo de valorizar a medida que cada palavra pode ter ao dilatar no seu sentido não fixo. A poética se desvela no cuidado com o amado, que não é uma trena onde o tamanho não carrega os exercícios das pequenas e tontas emoções passageiras.
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