Marcelo Frota – escritor
Entre o vírus e o vermese esgueiram poemas diz a que vem logo em seu título. É um retrato do desgoverno do Anticristo do Planalto, do Messias dos Idiotas, do Fascista dos Trópicos, do Inominável, do Aquele que se Diz Presidente, do Verdugo Jair Messias Bolsonaro. É uma síntese do horror que tomou conta do Brasil a partir do impeachment da presidente Dilma Rousseff por uma quadrilha de deputados e senadores vestindo o manto da falsa moral, do patriotismo e da canalhice.
Desde 2015, o Brasil flertava com o horror da falsidade e da indecência, usando a constituição como decoração e perpetrando através da justiça e da imprensa colonialista a mentira que se tornaria Bolsonaro. Todo preconceito, ignorância, insensatez e baixeza que esse ser personifica se tornaram o insumo que nutre um país apodrecido, que rege uma nação dominada pela burrice, onde ser ignorante é motivo de orgulho, onde idolatrar a desumanidade é lacração, é estar na moda, é ser o gado do Fascista dos Trópicos.
E veio o coronavírus, e cresceu a insanidade e absurdo. Como atesta Marcio del Rio em seu imprescindível prefácio: “O “satanás travestido de messias” inicialmente assegurou que seria apenas uma gripezinha, e a cada nova milhagem de vítimas expelia absurdos como “e daí?”, “não sou coveiro para falar de morte”. “A gente vai morrer um dia de qualquer jeito”, e pixando de “maricas” os que seguiam as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (…)”.
A pandemia e a contagem diária de mortes, que tem batido recordes nas últimas semanas, não foi, nem está sendo suficiente, para colocar um prego definitivo no caixão do Desgoverno do Messias dos Idiotas. O circulo de horrores, mortes, descaso, ignorância se amplifica a cada dia e o colapso nos sistemas de saúde estaduais mostram o quanto o governo federal está sendo relapso em seu papel de conduzir o país em meio ao caos da pandemia.
O novo livro de André Plez (Ed. Penalux), cumpre o papel de ser um retrato do tempo presente, e além. É um documento histórico que retrata o período mais nefasto da nossa democracia e da nossa realidade como nação. A música Perfeição, de Renato Russo, encontra seu verdadeiro significado nos versos de Plez: “Vamos celebrar a estupidez humana/A estupidez de todas as nações/O meu país e sua corja de assassinos/Covardes, estupradores e ladrões/Vamos celebrar a estupidez do povo/Nossa polícia e televisão/Vamos celebrar nosso governo/E nosso Estado, que não é nação (…)”.
Renato Russo não fazia ideia, ao escrever os versos para o álbum O Descobrimento do Brasil, da Legião Urbana, lançado em 1993, teriam tanta relevância em 2021. Renato, o poeta do pessimismo e da depressão pouco fazia ideia que o horror dos anos 1990 seriam tão amplificados e que o novo século que se avizinhava, traria o Brasil a uma espécie de segunda idade das trevas.
As trevas do Brasil de hoje, da pandemia, da morte e do Bolsonaro, são retratados em Entre o vírus e o verme se esgueiram poemas de forma impiedosa. A poesia de André Plez nos faz refletir sobre nosso tempo, nossa sociedade, o horror que nos cerca e a impossibilidade de escapar de tudo isso sem cicatrizes, sem traumas psicológicos duradouros, sem esfacelar nosso estado emocional.
Os versos de Psicose, são o parâmetro do absurdo, do inimaginável poder da ignorância, do inegável alcance da loucura:
enquanto o mundo muda
na tragédia que enluta
na colônia brasil
aflora um denso ardil
já que o messias nega
em fala nacional
a dor descomunal
de seu povo em clemência
demência em eco, em coro
que banaliza a dor
“basta encarar de frente
ser macho e não maricas” (…)
Nestes versos, de extrema precisão, encontram-se a síntese, da nossa nação. A rima involuntária que se formou, são o reflexo do meu eu poético, que como Plez, chora o sangue da desgraça do nosso povo, que clama por uma solução entre os mandos e desmandos do Anticristo do Planalto.
Fecho essa resenha com um dos poemas que mais me impactou, mantendo a formatação que está no livro:
o vírus e o verme
a pandemia e o pandemônio
o remédio para amenizar e o remédio para lucrar
a máscara para proteger e a máscara para perverter
a vacina para prevenir e a vacina para reeleger
o invisível para temer e o visível para temer
a luta no luto e o luto na luta
a pandemia e o pandemônio
o vírus e o verme
Deixo os versos falarem por si mesmos, deixo a poesia alcançar sua máxima ressonância. As palavras do poeta, bastam.
Excelentes: comentário e obra do Plez. Vida longa à literatura de André Plez e morte imediata do Messias macabro. Parabéns pela acuidade de Marcelo Frota.