Meu nome é Raquel Gadelha, sou cearense e tenho 23 anos de idade. Estudo jornalismo na Universidade Federal do Ceará e estou concluindo o 7° semestre.
Sou completamente apaixonada por ficção, e estou sempre viajando por um novo mundo e conhecendo novas realidades, seja através da literatura ou por meio de filmes e séries.
Três mulheres é um livro que surpreende do início ao fim. Quando lemos uma ficção é muito fácil ligar-se aos personagens, torcer para uns, odiar outros, e até mesmo fingir que outros nem sequer fizeram parte da narrativa. Mas o que fazer quando o que se está lendo são histórias reais e você precisa aceitar que nem tudo é preto no branco, e que às vezes a mesma pessoa que num minuto te leva ao céu, no outro pode te mostrar o inferno e te deixar lá queimando nele? Essa não é uma resposta fácil e provavelmente é um tanto quanto controversa, mas parece ser nela que se baseiam as vidas apresentadas por Lisa Taddeo em seu trabalho de tantos anos.
É preciso, no mínimo, ter coragem para dizer tudo o que foi dito por Lina, Maggie e Sloane. Falar tão abertamente sobre si é um exercício que poucas pessoas conseguem praticar, principalmente quando há tanta dor, sofrimento e constrangimento envolvidos. Para elas, esse pareceu ser principalmente um ato de liberdade. Claro, essa é apenas a minha interpretação, como participante passiva dessa história. E confesso que, se fosse eu no lugar de uma dessas mulheres, dificilmente teria sido capaz de mostrar tanto o que todos gostariam de esconder.
Nessa dinâmica podemos perceber que a coragem precisa vir de todos os lados.
Sim, com certeza não é fácil falar sobre uma porção de situações ruins pelas quais você passou na vida, mas acredito que também não seja nada fácil ouvi-las e escrever sobre elas, o que foi feito genuinamente por Lisa. Há também o leitor, a terceira peça desse jogo de palavras, mas não menos importante. Eu, como leitora, posso afirmar que minha tarefa não foi simples também não. Sentir a dor do outro, principalmente se você é uma pessoa sensível, é algo que te faz sofrer em uma proporção semelhante a de quem foi ferido.
Sofri com a injustiça do julgamento de Maggie e como um homem pode sim se livrar das piores merdas do mundo, se ele for, bom, um homem. Sofri com a falta de amor, afeto, afeição e qualquer outro sentimento bom do qual Lina tenha sido privada em sua vida. Sofri com o excesso de tudo na vida de Sloane, que nunca possibilitou que ela pudesse descobrir a si mesma sem parecer que ao mesmo tempo estava perdendo um pedaço dela igualmente.
É verdade que a autora coloca o leitor em um posicionamento um tanto quanto complicado em diversos momentos. Se essa fosse uma obra de ficção, não seria tão constrangedor ficar excitado com descrições de cenas que é muito mais comum se ler em livros de romance do que em histórias de não-ficção. Mas ela traz a vida real, e na vida real uma mulher que só pode transar com o amor da sua vida nos momentos em que ele determina, por 30 minutos, para que a esposa não desconfie da traição, o único sentimento despertado é o de raiva e indignação. Raiva de Lina?
Não mesmo, mas de uma sociedade que nunca ensinou às mulheres como não serem tão dependentes emocionalmente de seus parceiros, sejam eles seus conjugues ou não.
São tantos os sentimentos que envolvem a leitura desse livro, é simplesmente impossível não torcer para que o professor abusador da Maggie seja culpabilizado por seus atos; que o marido da Sloane priorize ela e seus desejos, tantos sexuais como sentimentais; e que o Aidan entenda que a Lina não é só um brinquedinho sexual dele, para satisfazer as vontades dele, na hora e lugar que ele quiser. Mas, mais uma vez, essa é a vida real e nem sempre as coisas acontecem como esperamos e desejamos. Só nos resta torcer para que cada vez mais as mulheres consigam enxergar seu valor enquanto indivíduos pensantes, que fazem parte da sociedade como um todo e que não precisam/devem se submeter a nada além delas mesmas, e suas vontades, e seus sonhos, e seus desejos, e seus objetivos.
Quanto a importância dessa obra e de que se conte histórias de mulheres fortes, mas que ao mesmo tempo, têm suas fragilidades e precisam lidar com elas diariamente? Ela é imensurável. Que continuemos ouvindo as vozes de quem tem tanto para falar, mas ninguém para escutar.
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