por Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Sou um fantasma, sou fantástico. Diria um personagem que aparece desencarnado. Sem seu corpo de texto ele pode ater-se a página branca. Ao espaço da criação sem assombrar ninguém.
Mas quando digo que gosto de escritor x, há ali uma filiação que não parece uma aparição de uma forma de tatear a escrita igual ao mestre. Há muito mais do que imitar um mestre do que escrever algo que vá por ali, como herança. Não é tanto escrever como, mas usar este espaço branco, esta fantasia criatura, para horizontalizar a poética.
É o exercício de preencher lacunas que o autor deixa enquanto vive na escrita. Esta realização me deixou esteticamente feliz quando vi-li o novo livro da poeta Vera Casa Nova, Versos oblíquos ou A obliquidade do tempo, 7 letras, onde escolhe 8 poetas (5 homens e 3 mulheres) que nutre afeição pela escrita.
São eles: Paul Celan, Herberto Helder, Holderlin, Mia Couto, Carlos Drummond de Andrade, Wislawa Szymborska, Marina Tsevetáieva, Sylvia Plath.
Numa linda tessitura de fio cerzido de urdir versos no lugar branco do poeta, Vera constrói um traçado dialógico, onde os versos dela se interpenetram como a destreza mimética do poeta-verso em aspas. Há um desenho em alguns poemas pelos vãos de um país demolido, onde a verdade já nem é pós, mas sim, apocalíptica.
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