O DEDO NO SALGADINHO | Adriano Besen

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Em uma empresa brasileira do ramo alimentício que produzia salgadinhos, aconteceu algo inacreditável. Na linha de produção onde os salgadinhos eram produzidos e embalados de maneira automatizada, ocorreu um grave acidente. Após uma pane mecânica em uma das empacotadoras industriais da fábrica, um dos funcionários, que ocupava a função de auxiliar de produção acabou perdendo um dos dedos. Por motivo de segurança, toda a produção da fábrica foi suspensa imediatamente.

Testemunhas relataram que logo depois do acidente o homem caiu no chão desmaiado, e havia sangue por todo canto. Rapidamente o funcionário foi socorrido, primeiramente pela brigada socorrista da empresa e logo em seguida por uma ambulância que o levou para o hospital. Contam que na empresa, o dilema maior foi encontrar o dedo decepado do homem. A máquina foi desmontada, peça por peça, e o dedo não foi encontrado. Após uma detalhada procura, não localizaram o dedo do funcionário no local do acidente.

Como em qualquer indústria de grande porte a produção não podia parar; foi feita a devida limpeza, a empacotadora com defeito foi substituída e o trabalho recomeçou com força total. Todos acreditavam que o dedo do pobre homem havia sido de alguma maneira, triturado pelas engrenagens da máquina e expelido junto com todo aquele sangue que se viu no dia do acidente. Era a única explicação. Já o funcionário que sofreu o terrível acidente, ficou muito traumatizado, entrou na perícia médica e não conseguiu mais voltar a trabalhar na fábrica.

Na empresa, o assunto foi dado como encerrado e classificado como um lamentável acidente de trabalho. A fábrica de salgadinhos seguiu em frente com a produção. Até aí, essa história parecia ser só mais uma entre as muitas que acontecem diariamente nas empresas e indústrias brasileiras. Um dos seus funcionários sofre um acidente de trabalho e claro, é ele quem fica com o prejuízo real. Porém, o episódio na fábrica de salgadinho ainda estava longe de acabar.

Duas semanas depois, do outro lado da cidade, um garoto de 12 anos de idade estava saindo do colégio e resolveu comprar um pacote de salgadinhos no bar da cantina da escola. Todos os dias ele pegava o ônibus para ir para casa e no caminho de volta, costumava ir saboreando seus salgadinhos favoritos. Naquele dia, comprou o seu salgadinho preferido e guardou na sua mochila. Assim que o ônibus chegou ao ponto, o garoto embarcou e se sentou confortavelmente em uma das poltronas.
Outras pessoas embarcaram e o ônibus logo andou; o retorno para casa estava começando… então, era hora do lanche, hora de abrir o seu pacote de salgadinhos.

Distraído, o garoto ia olhando para fora do ônibus pela janela, observando as pessoas na rua, a paisagem, etc. Pegou o pacote de salgadinhos na mochila e abriu, com um movimento automático de quem fazia aquilo todos os dias. Começou a comer seus deliciosos salgadinhos de queijo enquanto continuava olhando pela janela do ônibus. Aqueles salgadinhos costumavam ter um cheiro de chulé, mas mesmo assim, o gosto era maravilhoso. Naquele dia os salgadinhos pareciam estar com um cheiro meio estranho, mas continuavam extremamente saborosos. Continuou a comer.

De repente, o garoto pegou algo dentro do pacote que não tinha a mesma textura dos salgadinhos. Parecia ter uma textura de carne e antes de levar até a boca, olhou para o que tinha na mão. Um cheiro de podre havia tomado conta de suas narinas. Chocado com o que viu, o garoto ficou dividido entre a ânsia de vômito e o instinto inocente de gritar; não se conteve e deu um grito de horror. Ele estava segurando um dedo humano apodrecido e muito nojento.

Todos no ônibus olharam assustados para o garoto. Sem entender o que estava acontecendo, o motorista do ônibus parou bruscamente. Os passageiros estavam apavorados com o que viam; um dedo humano. O garoto quase desmaiou sem compreender o que tinha acontecido. Seria uma brincadeira sem graça dos garotos mais velhos? Depois que todos perceberam que se tratava de um dedo humano encontrado dentro de um pacote de salgadinhos, a polícia foi chamada.

Essa história rendeu, e ganhou os noticiários e os jornais de todo o país. As pessoas faziam até piadas, dizendo que um dedo humano é o tipo de brinde que ninguém quer encontrar em um pacote de salgadinhos. O garoto ficou muito impressionado e nunca mais teve coragem de comer salgadinhos. Aquela experiência traumática lhe rendeu medo e nojo. O garoto precisou fazer terapia com um psicólogo.

Os investigadores da polícia rapidamente ligaram o caso do dedo humano no pacote de salgadinhos do garoto ao caso do funcionário que havia perdido o dedo na máquina da indústria de alimentos, algumas semanas antes. Foram feitos testes clínicos e assim o caso foi solucionado; entendeu-se que, quando o dedo do funcionário foi decepado, a empacotadora industrial embalou e lacrou um pacote com o dedo do homem dentro, junto com os saborosos salgadinhos. Foi por isso que ninguém conseguiu encontrar o dedo do funcionário no local do acidente.

E assim, de maneira assustadora, o mistério do dedo no salgadinho foi desvendado. A história correu o Brasil todo e toda aquela propaganda negativa afetou consideravelmente as vendas da fábrica. Para não ir à falência, a empresa precisou trocar de nome e passou a fabricar outro produto; salsichas.

 
Adriano Besen
Natural de Florianópolis (Santa Catarina)
Autor do livro infantil: A história de uma galinha
Foi colunista do jornal O Tropeiro
Publicado em Antologias, revistas, jornais, blogs e sites.
Escritor e Músico.
Contador de histórias.
Apaixonado por livros.

https://www.facebook.com/adriano.besen.7

Instagram: @adrianobesen

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This Article Has 4 Comments
  1. Adriano Besen Reply

    Agradeço a Literatura e Fechadura pela oportunidade.
    Para mim foi um enorme prazer publicar meu texto.
    Um fraterno abraço.

  2. Roberto Monteiro Reply

    Muito boa!!!

  3. Thiago Reply

    Top de Linha.. sucesso Adriano.

  4. Jane luci Cardoso Reply

    Muito legal…

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