Marcelo Frota | escritor
O tempo e suas ramificações são a essência de Poemas para você aprender a respirar, (Ed. Penalux, 2020). Dividido em três partes, O Passado, O Presente e O Futuro, a obra é um convide para desvendar os meandros do tempo e como essa palavra tão curta, talvez seja, a palavra mais importante depois de vida e morte.
A poesia de Wanderley Montanholi é composta por um fluxo de consciência hipnótico, fazendo da leitura da sua poesia algo fugaz, e, às vezes, é preciso desacelerar o fluxo da leitura para apreciar o genial “jogo de palavras” com o qual o autor nos brinda em sua poesia. Um exemplo deste jogo frenético são os versos: “Sonho sempre que meu corpo é como um lago/Profundo, escuro e com a claridade interna de um desespero em vaga-lumes/ E mesmo que a lâmina afiada da morte/ Tente apagar a luz dos olhos que outrora foram meus/ E mesmo que tente apagar o amor, o tempo, as nuvens doces em algodão/ A roda da vida gira em sorte e encanto (…)” .
A roda viva da vida se faz presente nestes versos, que englobam em poucas linhas morte, amor, tempo e lembranças. Não saberia dizer, e nem ousarei supor, o quão autobiográfico são estes versos, mas me aventuro a pensar que ali existe uma memória, uma vivencia, um recorte temporal. Para mim, a poesia que nasce da memória, é a poesia mais impactante, pois, entre as palavras que compõem os versos, existe a essência do ser humano. A essência maior do poeta, é sua memória.
Outra característica da poesia de Montanholi, é a musicalidade. Foi impossível não cantarolar vários de seus poemas, e imagino Vitor Ramil, Caetano Veloso ou Chico Buarque musicando os versos do poeta. Esta musicalidade poética, que nada tem de latente, é um dos aspectos mais poderosos que fazem de Poemas para você aprender a respirar uma obra que se destaca da maioria dos livros de poesia que estão chegando ao mercado.
Eu, como admirador confesso do cantor e compositor gaúcho Vitor Ramil, imagino os versos a seguir na voz e violão deste músico que musica a poesia de Jorge Luis Borges, e faz versões espetaculares da poesia de Bob Dylan em português. “Nós éramos barcos presos em garrafas/Presos em estrelas vazias/Vendo o pôr do sol de olhos fechados/Vendo o pôr do sol de olhos vendados”.
Entre os poemas que compõem o livro, os que mais tocaram meu coração de poeta foram: “Qual desapego navega ainda nessa terra?/Os sonhos plantados/Ainda permanecem sob o mundo/Frio e entre oceanos/Com cheiro de violetas/Guardadas em vasos de plástico (…)”. Confesso a você, Wanderley, que gostaria de ter escrito esses versos que são teus, e agora, de certa forma, meus. Futuramente, o homenagearei em poesia, e o deixarei saber. Agradeço a você, por estes versos magníficos, meu caro companheiro de luta poética.
A soma de Poemas para você aprender a respirar vai muito além dos destaques acima, e, apenas com a leitura completa da obra, é possível dimensionar o tamanho deste livro, que a meu ver, deve ser inscrito em premiações literárias e ganhar as redes através de declamações de leitores e outros autores. Definitivamente, um dos melhores livros de poesia que li neste ano de 2021.
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