Fernando Andrade | Jornalista e crítico de literatura
O lugar do teatro é o espaço do jogo com a palavra. Aqui não apenas do seu sentido figurado, metafórico, fazendo relações com imagens. Também é o espaço físico onde as palavras ganham peso, sons, texturas quando soltas pela capacidade de articular do ator¥atriz. Tal espaço nunca é neutro, pois ali, existe um espécie de combate entre o niilismo de não acreditar no sentido, no jogo da existência, na veia absurda que as relações em que a palavra serve de meio e mensagem, consegue se fazer entender.
O teatro se faz de potência desta palavra, porque tira ela do lugar de conforto, e de expressão cotidiana e consensualizada. Coisas e objetos quando jogados no espaço cênico, são permeados pela mistura polissêmica dos significados. Um quadro se completa e multiplica pela parede que a sustém. O quadro fala com a parede e não apenas mantém status estéticos – sobre o lugar. Estas relações espaciais e poéticas vi no novo livro da atriz e dramaturga Hulle Horranna, em seu novo livro, Peças de um quebra-cabeça que não dá para montar, pela editora Patuá. São 4 pequenas peças, o poético e o espacial se conectam com jogos de linguagem em busca ou saindo de suas referências.
A autora trabalha a solidão e incomunicabilidade com um lugar de entre-fala de uma nova cosmogonia do afeto. Tanto na primeira peça da relação espacial em um museu onde um quadro discute com a parede sobre referências de expressão. Outros texto como, “O destino de Maria” e “A moça e o passarinho”, falam sobre o poder da ilusão e imaginação, criando laços e pontes com o poder milagroso do afeto-palavra. A sintonia entre seres e coisas, estariam, também na sugestão do silêncio e da pausa, não na saturação da palavra. Os textos da autora mexem tanto com o aspecto lúdico da existência, quanto nos afastamos da infância, para sermos adultos normatizados.
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