Livro póstumo do poeta Carvalho Junior, Xilogravuras de pássaros, tece o reino encantado da linguagem fabular poemática | por Fernando Andrade

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FERNANDO ANDRADE | jornalista e crítico literário

Um homem que coloca cartas como Tarot sem um fio narrativo. Cartas que desenham na imaginação do poeta, símbolos, imagens, prosódias, ritos. Um baralho do reino, onde a relação da ordem da mão, seja apenas rimas, versos e poema. Este cantautor é místico? Que verseja alguma história do próprio fabular poético de algum reino muito tropical, onde léguas não são distâncias, mas sim, métricas.
Não se trata de mágica entre fazer sumir o sentido, para aparecer uma estética do cordel encantado. É mais o fazedor de linguagem falando do real, nosso, através das figuras da linguagem onde uma flor não mimetiza apenas a natureza, e também, uma afetividade humana em relação a um entrecruzar de mãos, um trocar de olhares, início da comunicação entre os seres.
Estas relações da dialógica do humano, em relação ao meio social e natural, estão imersas como peixe submarino, no último livro do poeta Carvalho Junior, Xilogravuras de pássaros, editora Penalux. Fabular é tecer laços com o simbólico, onde há sempre papéis até teatrais das inversões. É trocar de personagem onde bicho emana gente. Gente, bicho. Mas não é apenas colocar as cartas numa sequência ilógica ou numérica.
É o trabalho dosado com a linguagem, a alquimia dos sentidos embaralhados numa arte anímica. Relações de cores, textuais, pinceladas de azul no lilás mais degrade. Carvalho fala sem citar, geografias, não é só do sertão que ele contextualiza seus animais. São modos humanos de estreitar o chão, de medir distâncias entre o falar e o silenciar, pelo ato da palavra.
Mas o poeta, é verdade que gosta da solidão? Uma carta agora de fazer linhas escritas na busca de um outrem que já não está mais aqui. O quê ela pode ser? além da expressão de uma saudade. Uma carta que fosse apenas um beija-flor levando, dia, ao pôr de sol.

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