Fernando Andrade | escritor e jornalista
Qual distância do eu lírico para o eu viajante dentro de um livro de poemas que movimenta uma caminhada ao cerne da África? Quando viajamos olhamos a cena com olhos de um estrangeiro que está na margem do ato. A lembrança é um ato performático sobre aquela informação? vi o Leão. Ele estava prestes à matar. Mas no poema mudamos o olhar, pois, o foco não é mais uma informação para armazenar.
No poema queremos as ranhuras, os interstícios, da cena. Quando se escreve não precisamos estar lá, no fato daquela savana da África. Trabalhamos as lacunas que um universo como um lugar onde a morte e a vida se relacionam por literalidade.
Ao ler o novo livro de poemas da poeta, Michaela V. Schmaedel, Quênia, poemas de viagem, pela editora casa edições, vejo que as palavras criam suas buscas, não pelo animal à espreita. O animal vira uma imagem que ajuda a poeta a falar de uma outra coisa de forma associativa.
É como se Michaela falasse mais fora do quadro daquela cena de viagem, colocando um subtexto, onde o viajante apenas tira suas conclusões. É o leão que matou o antílope. É um guia de viagem que não guia, mas, desorienta o olhar do leitor para aquilo que está fora da margem, fora até de contexto. Uma viagem ao mundo da imaginação, onde os arquétipos parecem mais sublinhados do que as feras ali habitadas.
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