Livro de ensaios sobre Nelson Rodrigues, A Psicanálise como ela é… pelo buraco da fechadura, mistura gêneros narrativos para assinar seu personagem | por Fernando Andrade

Rafael Costa A vida como ela é - Livro de ensaios sobre Nelson Rodrigues, A Psicanálise como ela é... pelo buraco da fechadura, mistura gêneros narrativos para assinar seu personagem | por Fernando Andrade

 

 

 

 

 

Fernando Andrade | crítico literário e escritor

Qual seria a diferença entre o espectador  que olha pelo buraco de uma fechadura uma cena qualquer e um leitor que lê um livro sem um anteparo para escondê-lo? O leitor estaria mais franco diante da ficção ou de uma poética porque encara o livro de forma frontal? O que forma um vouyer que vê sem ser visto?

Mas a fechadura tem um simbolismo todo do desejo, e também do literário. Ver apenas um parte do texto e escondê-lo do todo, do resto, parece algo até sugestivo. Por que aquela imagem do buraco da fechadura é também iconográfica de muitas semânticas. A fechadura como ensaio crítico de uma obra em especial.

 Esta relação parece desigual por seu aspecto escondido. Mas ao camuflar a visão do objeto de estudo  temos então num livro onde a relação de estudo é de desejo pela leitura do autor\criador, mas, também de certa reverência ao estilo do autor em moldar certa figuração de caráter simbólico do povo brasileiro.

Esta visão encoberta que faz do livro que analiso aqui chamado A psicanálise como ela é pelo buraco da fechadura, editora Patuá, ser tão instigante para o leitor, mesmo não familiarizado com o universo do Nelson Rodrigues. Rafael tem um texto muito fractal e aberto aos universos e estilos literários indo do ensaio e da ficção poética. Tendo certa instrumentalização teórica do mestrado, seu livro não tem nada de acadêmico no sentido do fechado, lacrado.

A figuração da fechadura é outra. É como uma relação de fala e escuta que perpassa pela estética do prazer do texto.  Para o escritor que escreve, o estudioso descria seu universo, com uma certa penumbra às nuance do texto, criando inseguranças mais do que destinos. Não revelar uma vida inteira pelo sabor e labor da arte das palavras. Mas sim, deixar que o leitor intua ou faça da sua sensibilidade literária um caminho de desvelamento do personagem Nelson Rodrigues. É isso que Rafael consegue primorosamente com este belo trabalho.

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