As faces do amor em O amor em breve anatomia das horas | por Marcelo Frota

Thainá Carvalho - As faces do amor em O amor em breve anatomia das horas | por Marcelo Frota

 

 

 

 

 

Marcelo Frota – escritor 

O amor em breve anatomia das horas, livro de poemas de Thainá Carvalhos (Ed. Penalux, 2021), traz em sua gênese considerações a respeito do amor e suas ramificações. Dividido em cinco partes Noite, Madrugada, Manhã, Meio-Dia e Tarde, a obra faz referências ao tempo e ao tempo do amor, fazendo uso dos períodos na colcha de retalhos que unem a poesia com o verbo amar.

Em Tirando a mesa, as lembranças de um amor talvez fugaz se intercalam com as memórias de um ato tão cotidiano quanto tirar a mesa após uma refeição: “Ah, esqueço que já tiramos essas fantasias todas/e fumamos cigarros ao lado da janela/discutindo a cor do cinzeiro antiquado/e o gato dentro do jarro dentro da cômoda”. As memórias das coisas pequenas, dos pequenos gestos que parecem corriqueiros, são aquelas que nas horas de solidão tomam dimensões gigantescas.
Haveria continuidade no dia seguinte?, talvez não, mas as palavras e trocas ficaram ressoando.

Dia dos namorados inicia com o foco deste dia. A força do poema este em “Então hoje é dia de professar amores/puros e orgânicos…” para em seguida relatar os prazeres da solidão. O “silêncio das sandálias que não se arrastam”, a “suavidade dos risos na solidão”. O contentamento da solidão tem data de validade, e termina nas considerações que fecham o poema: “Se estamos mesmo falando/de amores/diria que sou meu afeto/e meu abraço/diria que sou minha dança/e meu afago/mas se estamos falando de declarações/desesperadas/pediria:/volte,/tenho medo/de um futuro/não ensaiado”. O amor próprio está em ênfase, visível e palpável, mas no final, o medo de encarar o desconhecido, parece sobrepor-se ao desejo de um futuro em que a dúvida de um novo amor, volta a dar encanto a uma relação onde a peças não se encaixam mais.

Em sua simplicidade quase franciscana, o poema Tempero, traz as dúvidas que povoam a mente de qualquer casal, uma hora ou outra. “Hoje jantamos/e tudo foi tão riso/o sempre/antes de duvidarmos/da nossa eternidade/que você nem reclamou/do molho sem sal”. As dúvidas do cotidiano, do “se somos feitos um para o outro”, os questionamentos que nunca cessam, as pequenas queixas sobre algo transitório, como o “molho sem sal”, são, muitas vezes, o inicio do fim, o combustível para o desaparecimento do amor.

Thainá Carvalho fala, através dos seus versos, sobre esse cotidiano de amar, de ser dois, de estar sozinha, sendo dois ou, sozinha sendo um com maestria. Suas considerações/divagações sobre essa batalha constante, que é o amor, fazem de O amor em breve anatomia das horas um livro para ser lido, e relido, pois todos já estivemos no lugar de fala da autora, em um momento ou outro.

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Escritor e professor.

 

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