Fernando Andrade | escritor e crítico literário
Se o homem contemporâneo tira sua temperatura para indicar algum tipo de febre, logo depois de medi-la, seu índice corporal assumirá um estado de alerta, meio paranoico. Estamos num estágio quente de suspensão… O medo de adoecer tem levado a filosofia a redimensionar o conceito de Ser neste mundo pandêmico. A vida deixou de ser modo de usar, para citar Perec, para ser modo Stand By.
Pois lendo o livro de contos do escritor André Lemos, chamado Desastres, editora Penalux, pressinto todos os lados que as mídias sociais têm focado na epidemia do medo e do controle que por uma certa guerra informacional, temos que nos ater na relação entre fato e mentira no combate à covid. André redimensiona este mundo, com contos em que as relações sociais são franqueadas pelo próximo passo a seguir numa lógica binária de sim e não, certo ou errado, vida e morte, neste território nós não temos mais certeza de nada.
São narrativas onde a tecnologia, parece fundamentar este vácuo onde o humano se depara com alguma segurança sobre suas ações cotidianas. Olhares ao entorno se viram contra aqueles a quem se olhou na direção. As reações não parecem vir mais das ações, o encadeamento racional das coisas começa a ruir em absurdos de lógica.
O humor revela certo traço que o real tem de virar seu avesso num certo ar surrealista de objetos caídos do céu. O que pode a existência esperar de um processo de entropia onde o que era leve, fica pesado? O sólido já não se desfaz no ar, numa modernidade porosa de analisar sobre o pensar de todas as dúvidas.
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