Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Escrever uma pulsão que nos molda na vida não é fácil. Moldar a casa do nosso chão que levará em vaso-uso, as agruras da existência parecem muito distante de um narrar a fábula de uma vida. Autor e autoria parecem uma relação distante quando a vida nos põe em luta. Parece certa segurança para aqueles que não se misturam na aventura da ficção.
Vejo o personagem Pedro do novo romance da escritora Sandra Godinho, Sonho Negro, com seus passos (tímidos ?) perante as tomadas de decisões ainda mais no trabalho muito arriscado: na empresa de extração de petróleo. Pedro não reescreve sua experiência de uma vida à dois. Sua autoria parece cansada. Casa-se com Helena, que tem a segurança da personagem grega, atenta aos instintos de sexualidade vibrante.
Pedro já tem medo de deixar rastros, por que talvez não saiba errar, ou ser errático como seu amigo e colega Bruno, este já um pouco desamparado sobre uma trindade familiar que o deixa louco, por um amor que possui.
Bruno quer a terra negra que uma ausência lhe sedimentou quando pequeno. Bruno quer Helena, mulher de Pedro, pois para ele, só a devoção ao outro nos distancia de uma diminuição da alma pequena, como diz Pessoa.
Este triângulo amoroso é desenhado por Sandra com mão firme, na forma, em ver, pelo lado dos vórtices, cada fagulha ou centelha do desejo-querer para com a vida, esta flor-ferida. A narração é tripartida sobre os três narradores que assumem a poética que eles têm dos outros dois lados do triângulo. Depor é ver o ponto de vista do outro.
Bruno: a Vida em combustão, que sai de dentro de terra-corpo que desmobiliza os entraves dos interditos familiares. Helena se vê numa cilada do afeto entre a segurança enganosa de uma família e a fricção dos atos e tensões de uma relação com Bruno que estremece as placas tectônicas do afeto.
https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/sonho-negro/
Be the first to comment