Fernando Andrade | escritor e jornalista
Veja a dinâmica do palco, cada ator ou atriz tem no seu quadrado uma agulha ferina que tece fios. Feito de palavras que fazem certo tecido narrativo que ali emaranhados por tantos do grupo de atores criam uma malha sonora, de pelos, apelos aos ouvintes que estão mais além das fronteiras do palco.
O público-leitor absorve atento a linguagem dos indistintos limites de gêneros, pois aqui estamos falando da experiência do corpo ao contato do outro. A linguagem por trás do biombo normativo entre pessoas que procuram o amor. Mas se no teatro é o lugar do espaço por excelência, da fala e da escuta atenta aos silêncios do sentidos. Como será esta relação quando mediada pela leitura de um livro entre a solidão e a atenção? Através das pausas, silêncios, reticências e entrelinhas.
A autora Eliane França nos provoca a refletir, portanto, neste livro, Sobre o dorso das fêmeas, Editora Penalux, sobre as relações sociais e pessoais em diversos formatos de identidade de gêneros. A ação é experimentada pela linguagem, sempre afiada a mostrar os lados e a profundidade do espaço e contexto de cada personagem. A solidão, o casamento, a infância são filigranados por intensa experiência do sentir na pele, como as inéditas descobertas do corpo e da sexualidade no conto, Esconderijos, ou no próprio conto que dá título ao livro, Sobre o dorso das fêmeas, quebra-cabeça carnal, onde as posições se encaixam e problematizam a dinâmica do sexo. Nestas linhas nunca fixadas sobre o tablado da linguagem poética, operam sem rótulos ou classificações esta bela artesania dos afetos humanos.
Be the first to comment