Fernando Andrade entrevista a poeta Nataly Cavalcantti

Nataly Calvancatti - Fernando Andrade entrevista a poeta Nataly Cavalcantti

 

 

 

 

Fernando Andrade entrevista a poeta Nataly Cavalcantti

 

 

FA: O bate-papo é uma arte da coloquialidade entre pessoas. Ele pode se dar num bar, na praia, numa caminhada pela orla. Ele passa por cima do discurso intelectual, acadêmico, onde as relações precisam ser mediadas por certo teor de conhecimento. Sua poesia tem este frescor de um bom colóquio entre amigos, parceiros e namorados. Como é esta relação tão íntima com as palavras?

NC: Acho que essa relação se dá mais com aquele que lê o que eu escrevo, do que necessariamente com as palavras. No poema eu procuro transcrever da maneira mais fiel possível aquilo que me atravessa, da maneira como me atravessa e que me move a escrever, e na minha imaginação não há formalidades. Falo um pouco sobre isso no texto de colofão do livro. De certa maneira acredito que isso humaniza a escrita e aproxima o interlocutor, que em alguma medida, ao ler o que eu escrevo acessa intimamente esse processo de travessia da minha criação.

FA: Você estabelece um repertório quase musical da cotidianidade dos “achados poéticos”. São insights sobre o que se vê na rotina mais prosaica. Como é esta relação com o lado mais perene da vida poética do nosso dia a dia?

NC: A poesia está. A captura desses insights que me atravessam se dá em muitos momentos do meu dia, eles partem dos mais diversos momentos e coisas, ou não-coisas. A maioria deles não se transformam em poema, mas são poesia nos meus instantes. O cotidiano é extremamente poético (sem romantismos).

FA: Os objetos nos seus poemas são signos dos afetos que um dia alguém tomou emprestado. Mas não uma posse, egoísta, e sim, uma sobre relações de troca. Elas possuem uma simbologia de querenças sobre o outro, que um dia também efetuou tal partilha. Fale disso.

NC: Os afetos são combustíveis para a captura da poesia que antecede o poema. Acredito que eles sejam inerentes a poesia. Porém, não consigo racionalizar essa relação objeto/afeto com essa minuciosidade que tu alcança na sua observação. Na minha construção isso se dá muito organicamente. Quereria eu, a tradução do indizível.

FA: Poesia e clichê parecem ambos não juntos e misturados. Como usá-lo para abotoar um bom poema?

NC: O que é um bom poema? Eu poderia falar daquilo que me afeta, que me transforma, que me faz questionar. Talvez um bom poema é o que carrega em si alguma dessas capacidades. Vou pensar mais a respeito da poesia e o clichê, não sei se existe medida ideal para essa junção, mas se o clichê é tão parte da vida, porque não uni-los e ‘poemá-los’? Se o resultado não trouxer uma resposta, talvez seja um bom poema.

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