Fernando Andrade | Jornalista e escritor
Uma placa escrita bem-vindo à cidade x, não traduz certa paisagem sobre o pertencimento para aquele local. Estar num lugar é se encher de lugares comuns. Estamos atolados na rotina desta mesma cidade, até esquecemos de como realmente ela é por dentro. Mas quando saímos dela, somos agarrados pelos nossos fios de linguagem, querendo ir junto mesmo que nossa viagem esteja marcada para outro país.
Quando a cidade até nomeia um personagem, o batizando de todas as matizes por onde fixidez, endereço, podem deixar rastros e saudades na mente de uma pessoa que sofre um acidente de avião. É este o caso de Alagoas, travesti, que se encontra hospitalizada após o avião cair. O narrador do livro viaja doze horas pelas estradas para ampará-la e buscá-la.
Ambos possuem muita memória e história juntos. O personagem narrador está às voltas com a paternidade, a mulher está no hospital prestes à dar a luz. Ele ruma para algum tipo de redenção dos sonhos e trajetórias baseadas na amizade com Alagoas. Romance entranhado nas questões de gêneros, onde o nordeste com sua pintura rupestre e simbolista metaforiza a estrada, mas também uma intensa visage interna, com se a liberdade não fosse só azul, mas também errática para suas nem pouco presas fronteiras.
Narrativa de deslocamentos, e afetos. A busca dos dois personagens não são por respostas, eles estão perdidas no meio da estrada da viagem. São desejos de transgressões sobre o que nos rotula de padrão, e norma social.
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