Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
A palavra Play em inglês pode significar tocar e também jogar. A relação entre música e jogo parece muita talhada para o trabalho com as palavras. Som e ritmo escandido as oscilações entre forma e conteúdo. Neste espaço onde os sentidos parecem vagar por uma certa experiência do camuflado, o que tem por trás das cortinas se não a ação subentendida. E como jogar, requer certas regras, que muitas vezes podem estar escondidas pelo blefe, ou pela farsa, de um escritor player. Fiquei pensando nesta relação ao ler o livro ‘Quebra-cabeça (nenhuma chuva em vão)’, do escritor Danilo Costa Leite.
Ali num casarão mora Xavier que se encontra com uma espécie de subalterna que cuida da casa. Alda procura um objeto na biblioteca, e é implicada por Xavier que desconfiado começa um certo jogo de adivinhações perguntando para ela, por respostas para algumas charadas que ele juntou durante sua vida familiar. A relação se estabelece pela desconfiança num lugar que guarda coisas que à princípio eram para ser mantidas preservadas de olhares.
Pode existir um laboratório do avô de Xavier cuja presença de estranhos causa temor no homem da casa. Xavier através de enigmas propõe à Ada contar a história da família e de seu tio que numa viagem de navio promovia também certa práticas de esfinge para quem chegasse perto de uma relação de linguagem verbal com ele, mas contendo “falhas” na mensagem, pois todo enigma possui lacunas de informações. E é nesta relação que o texto se desenvolve através do jogo de cena que se estabelece através do cênico que Danilo muito bem matiza, criando o errático na linguagem, através de um jogo teatral de ambiguidades.
Muito obrigado pelas palavras, Fernando! Vida longa à literatura!