Cinco poemas de Isabel Furini

Isabel Furini foto para revista - Cinco poemas de Isabel Furini

 
 
 
 

O anão

em silêncio…
perto de agitados jovens

eles
zombavam
zombavam
zombavam
e
riam
riam
riam

dos olhos do anão
começou a escorregar
uma chuva fina
misto de humilhação e de tristeza

às vezes, o riso humano
revela um oceano de impiedade

Isabel Furini

 

Bigornas e relógios

poderia dizer que
às vezes eu, tu, ele
outras vezes nós ou vós
frequentemente eles (seres humanos)

sinto, sentes, sente, sentimos, sentis, sentem
o peso das bigornas emocionais
sobre os ombros
pois todos carregamos nosso mundo como Atlas

é possível que algum relógio do jardim do tempo
marque o rosto e denuncie o assanhamento
daquele que drena as forças emocionais de outrem
para manipulá-lo impiedosamente

é possível que algum relógio do jardim do tempo
preencha as lacunas emocionais e as fraquezas
daqueles que se deixam manipular
– muitos querem dominar e fingem amar
mas ninguém quer carregar o mundo do outro
sobre os próprios ombros

a vida e o amor são imprevisíveis
– às vezes, viver é semear flores
e dançar no jardim do tempo
outras vezes, é cantar à morte.

Isabel Furini

 

Além dos calcanhares

… se eu fosse capaz de afrouxar as tensões da nuca
dos ombros e dos calcanhares
e entender que existem momentos singulares
nos quais a respiração exala o oxigênio espiritual
e as águas do mar escorregam pelos pés
e ajudam a expressar emoções
sem necessidade de pronunciar palavras
pois o amor e a solidão emudecem a garganta.

Isabel Furini

 

Quimérico

ocultar o rosto verdadeiro
e enganar os espelhos
e os olhos dos inimigos

fingir palavras de mel
e esconder o vinagre
o fel e a arrogância

homens e mulheres
vivem em mundos quiméricos
sem aceitar a própria fragilidade
nem a oculta crueldade

sentem o temor e o terror de enfrentar
a imagem monstruosa do próprio eu
na vertigem dos espelhos

Isabel Furini

 

O silêncio do sábio

Fugir do enxame das palavras
e perceber o valor do silêncio
admirar a atitude da aranha que tece a sua teia
sem questionamentos

entender a atitude do sábio que fica imóvel
depois de jogar no abismo
as palavras que prejudicam o seu mundo

reconhecer que até o sábio
permite que alguns poemas
fiquem dormindo placidamente
entre os tornozelos e os calcanhares.

Isabel Furini

 

Isabel Furini é escritora, poeta e educadora. Autora de 35 livros, entre eles, “Os Corvos de Van Gogh” (poemas). É criadora do Projeto Poetizar o Mundo; recebeu Comenda Ordem de Figueiró, no Rio de Janeiro; foi nomeada Embaixadora da Palavra pela Fundação César Egido Serrano (Espanha, 2017). Participou de Antologias poéticas em Portugal, Argentina e Chile. Palestrou sobre a arte de escrever em diversas Feiras do Livro. Em Setembro 2021, um poema de sua autoria recebeu o 2º Lugar no Concurso Taba Cultural de Literatura; em Outubro 2021, recebeu o Prêmio TV Channel Network do jornalista Alexandre Abdo.

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial