Luiz Eduardo de Carvalho | jornalista e escritor
A ficção, ágil e clara como a própria realidade, escorre estampada nas criativas páginas de Verás que É Tudo Mentira – quarto livro de contos de Mário Baggio – como se houvesse verdades ali impressas nas tramas de suas bem compostas ilusões.
Um jogo bem urdido entre uns fatos prosaicos, comezinhos, outros fantásticos e uma linguagem direta, clara, eleita para dar credibilidade ao inventado, que, por esse artifício sem artifícios, torna crível qualquer acontecido, inclusive esses, que não aconteceram. Um apelo à credibilidade sem efeitos especiais, sem peripécias narrativas, sem a comprometida manipulação de enredos repletos de despistes do que não poderia ter sido.
Justamente rendidos a essa proposital simplicidade que os contos criados em tudo se assemelham à vida que corre fora dos livros. Mas que não se confunda simplicidade com ingenuidade, trata-se de muito bem urdida literatura.
Com as regras bem postas na apresentação feita pelo próprio autor, norteia-se esse jogo dissimulado a capturar o leitor que, apesar dos alertas do título e do preâmbulo, nele acredita piamente, a ponto de envolver-se com os relatos, como quem lê o noticiário para encontrar pistas dos fatos que tramam o cotidiano.
Um painel de textos inventados como se fossem verdade. Ou será que Mário Baggio mente descaradamente e nos conta verdades como se fossem mentiras? Um boneco, qual Pinóquio, tornado vivo, ou uma vida, qual a de Gepeto, depositada na esperança de ver vivo o seu artificial engenho? Mistério indissolúvel que se adensa ao longo das cinquenta histórias curtas que, de certo, trazem a constatação de uma aguçada visão e de uma fértil e diversificada imaginação a captarem e comporem temas que vestem com precisão tanto os trajes do real, quanto os da fantasia.
Um deleite, numa bela edição da Editora Coralina, que reafirma Mário Baggio como gerador de clara luz a elencar a estreita constelação dos bons contadores de histórias contemporâneos.
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