Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Quem é o corpo que encena o absurdo em Beckett? Um corpo ruído, sonoro, poluído de frases defeitos onde a linguagem se enovela em lã enfiada. Um corpo onde só se pode ver no teatro, lugar de entre e sai, de entrelinhas, marcações de cenas. Gagueiras, fraturas, lacunas onde a palavra se potencializa em ver – solo, em verso.
Para se experimentar um tipo de movimento, precisamos de usufruir de nossas fendas pulsionais, onde os sentidos correm pelas veredas do texto. A poeta pluraliza os versos nos espaços do corpo, entre tendões e tensões, onde o silêncio dorme com uma atenção e vigília do próprio. Ana Galdino num livro curto, como este lacunas, Penalux, faz uma bela distensão muscular, expondo a linguagem corporal numa fase aguda de linha entre o apagar dos olhos, o anoitecer dos sonhos, produzindo as mais belas imagens inconscientes e poéticas vista recentemente.
Mas diferente da solidão Beckettiana, a poeta em seu livro passa e passeia pela companhia de uma possível alteridade, por um outro que vigilante, espreita este corpo sonda. Há no livro uma perpétua relação entre ver e sondar obscuridades dos sentidos que não se revelam por está dentro dos tecidos, dos órgãos, dos interstícios da poeticidade mais humana e visceral.
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