https://www.editorapatua.com.br/o-funeral-da-baleia-de-lilian-sais
Fernando Andrade | escritor e crítico de literatura
Há um sentimento de intensidade do menor, pela pintura, no primeiro romance da poeta e escritora Lilian Sais, O funeral da baleia pela editora Patuá. Uma escrita minimalista que me tocou pelas notas musicais tão bem pousadas entre as pausas, e silêncios da narrativa. Você ouve o som das palavras e certa respiração da lacuna vazada por signos e significantes que batem e musicam dentro do coração do leitor.
Palavras tão bem desenhadas por um pincel de vazar sentidos por não ter pressa de fazer o leitor entender o texto, de um jeito tão simples. Antes disso, eu e você precisamos sentir pela organicidade da poética de Lilian a captação de cada voo de abelhas que aparecem na florada da ficção.
Pai e filha revezam acontecimentos, no lugar onde moram; uma cidade cujo nome alumbra certo pássaro canoro e musical, muito conhecido da nossa MPB. Mas algo acontece lá na fronteira do espaço onde a linguagem demora a pisar. Onde a narradora tenta ouvir os sinais de certa referência aos animais que estão pisando e acontecendo na visada de Assum preto. Uma baleia está encalhada na praia. Ela morre, e sua memória sensitiva promove tremores pela cidade toda. Alguma dor tão grande a ponto de todos perderem sua humanidade no tempo do ser tão grande diminuir ao atolar na areia da praia.
O leitor acompanha com certa latência certas premonições onde bois aparecem na janela das casas, ou pastam no meio de estradas. Arthur Pereira, pai da narradora, ainda vive de sinais e eventos que rodeiam sua casa. A humanidade deste livro tão terno e sincero parece nos depurar a loucura de sermos crédulos e não manter certa dose de fé no estranho e no surreal. Certa animalidade sempre nos mostrou que a razão é péssima companheira para o admirável fantástico de nossas biografias.
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